Em reunião interna, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliou que o deputado Guilherme Derrite (PP-SP) — secretário de Segurança Pública licenciado de São Paulo — tentou alterar o projeto da Lei Antifacção de forma a desvirtuar o texto original elaborado pelo Ministério da Justiça e, segundo o governo, criar brechas que poderiam blindar futuros investigados com vínculos ao crime organizado. Para Lula e ministros presentes, as mudanças propostas acabaram desagradando governo, oposição e sociedade, levando o parlamentar a recuar após intensa pressão política.

A prioridade do governo agora é impedir que a versão final que será votada na Câmara dos Deputados se afaste demasiadamente da proposta original. Um ministro ouvido durante a reunião afirmou que, sem a reação do Executivo e de especialistas do direito, o relatório inicial de Derrite teria “enfraquecido a Polícia Federal”. O relator, porém, nega essa interpretação e afirma que teve sua intenção distorcida.

Segundo Derrite, o principal objetivo de seu relatório é endurecer as penas para integrantes do crime organizado. Para viabilizar a votação, ele aceitou orientações do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e retirou os trechos mais polêmicos de sua primeira versão — iniciativa tomada para evitar que o texto fosse barrado antes mesmo de chegar ao plenário. O documento já está em sua quarta redação e uma quinta pode ser apresentada para tentar garantir a análise na próxima terça-feira (18).

O governo, por sua vez, segue empenhado em suprimir ao menos os dispositivos que preveem cortes no orçamento da Polícia Federal. Enquanto as negociações se intensificam em Brasília, Lula cumpre agenda oficial na Malásia, de onde acompanha as tratativas políticas sobre o projeto.