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Sunday, 27 de June de 2021 - 20:20:00
Mãe espera 'paz no coração' 5 anos após morte do filho
CASO RODRIGO CLARO
Desde que Rodrigo Claro morreu, a tenente apresentou diversos atestados médicos alegando problemas psicológicos e faltou a várias audiências. Ela só foi ouvida uma vez e disse que a vítima tinha descontrole emocional.

A menos de um mês, Jane Claro deve ter a resposta que busca há quase 5 anos, quando o filho, Rodrigo Claro, foi morto em treinamento do Corpo de Bombeiros. Está marcado para os dias 14 e 30 o julgamento da tenente Izadora Ledur, instrutora da capacitação e acusada pela morte do rapaz.


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A mãe espera que Justiça dê paz ao seu coração pela perda precoce do filho, na época com 21 anos. O rapaz seguia os passos do pai, que também é bombeiro. Devido ao abalo após o falecimento do filho, o militar se aposentou da corporação e faz acompanhamento psicológico desde 2017.


“Esperamos que a Justiça, de fato, possa acontecer. Provas e testemunhas têm de sobra no processo. Então esperamos que as provas sejam suficientes para promover a Justiça”, é a expectativa da mãe.


Jane Claro diz que a vida nunca mais foi a mesma depois da morte do soldado do Corpo de Bombeiros. O marido se aposentou, o filho caçula também faz acompanhamento psicológico e ela sofre de ansiedade, que tem se agravado com a proximidade do julgamento.


Por ser o mais velho, Rodrigo teve papel de muita responsabilidade com os menores. Principalmente porque o pai viajava a trabalho e só vinha nos fins de semana para casa. Houve tempos que ele foi transferido para outra cidade e a ausência foi ainda maior. Jane ficava só com os meninos e o primogênito era quem a ajudava em tudo que precisava.


“Era ele que brincava com os meninos, ele que ajudava nos deveres da escola, ele que ajudava na educação, ele que estava sempre comigo em tudo que tinha que fazer pra casa, pois o pai só vinha para casa no final de semana. Então, meus filhos não perderam só o irmão, tiraram deles o amigo, o companheiro para todos os momentos, a referência que eles sempre tiveram do irmão”, relata.


Desde a morte em treinamento, a acusada Izadora Ledur falou em juízo apenas uma vez, em 2019. Em seu depoimento, ela disse que não adotou nenhum procedimento irregular e que o aluno tinha dificuldades nos cursos aquáticos, que cabia a ela instruí-lo para que tivesse um bom desempenho em situações adversas.


Após a morte de Rodrigo, outros alunos e ex-alunos denunciaram a oficial por tortura, abuso de autoridade e conduta irregular durante treinamentos.


“Espero em Deus e no bom senso da nossa Justiça, para eu possa ter um pouquinho que seja de paz”, desabada a mãe.


O caso
No dia 10 de novembro de 2016, o soldado participava de um treinamento de salvamento aquático, na Lagoa Trevisan, em Cuiabá. Testemunhas relataram que ele recebeu vários caldos ( afogamentos) da oficial Izadora Ledur e também foi intimidado por ela a cada vez que queria desistir da capacitação, pois se sentia mal.


Naquele dia, mesmo sem autorização da tenente, Claro saiu do curso se sentindo mal. Sozinho, ele seguiu de moto até unidade do Corpo de Bombeiros, no bairro Verdão. De lá, foi para a policlínica, situada em frente ao quartel.

 

Ele começou a convulsionar e foi internado em hospital particular. Foi diagnosticada a hemorragia cerebral. Ele passou por cirurgia, mas não resistiu e morreu no dia 15.


Logo após a morte, o Corpo de Bombeiros instaurou Inquérito Policial Militar (IPM), que conclui a conduta irregular da tenente. O material foi encaminhado para o Ministério Público Estadual (MPE), que pediu a condenação de Ledur por tortura e exclusão da corporação.


Desde que Rodrigo Claro morreu, a tenente apresentou diversos atestados médicos alegando problemas psicológicos e faltou a várias audiências. Ela só foi ouvida uma vez e disse que a vítima tinha descontrole emocional.


O julgamento da oficial estava marcado para dia 21 de janeiro, mas foi adiado para o mês que vem. O processo tramita na 11ª Vara Criminal Especializada da Justiça Militar, sob responsabilidade do juiz Marco Faleiros.

Texto/Fonte: Jessica Bachega GAZETAMT