Foto: Arquivo Pessoal
Tuesday, 15 de July de 2025 - 14:45:11
Médico agredido por marido de paciente morta em UPA teve retina descolada e ombro fraturado
AGRESSÃO EM UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO

O médico Pablo Leal foi brutalmente agredido pelo marido de uma paciente que morreu após atendimento em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em uma cidade de 300 mil habitantes com apenas dois pontos de urgência. A violência ocorreu horas depois da mulher, diagnosticada com dengue grave, ter sido encaminhada à sala vermelha da unidade e, posteriormente, ter falecido.

Segundo o relato do médico, a paciente chegou de cadeira de rodas por volta das 11h, e o atendimento inicial durou cerca de oito minutos. Pablo seguiu o protocolo do Ministério da Saúde para casos de dengue grave, com hidratação intensa por soro. Reavaliada duas vezes, a paciente chegou a relatar melhora. No entanto, arrancou o acesso venoso e apresentou quadro de agitação, sendo novamente atendida antes de ser transferida à área crítica.

Três horas depois, o marido dela invadiu o consultório do médico, desferindo dois socos no rosto e um no ombro, enquanto gritava que a mulher havia morrido. A agressão causou descolamento parcial da retina e fratura no ombro de Pablo, que passou quatro meses em fisioterapia e sofreu com flashes visuais por três meses.

Além da violência física, o médico enfrentou uma onda de ataques e acusações de negligência. “Meu nome foi pra lama”, desabafa. Um advogado do marido chegou a afirmar à imprensa que Pablo teria mandado a paciente calar a boca, versão que ele nega veementemente. “Se tivesse feito isso, ele me agrediria na hora, não quatro horas depois.”

Sem segurança adequada no local e com o maqueiro atuando de forma improvisada como vigilante, o clima de tensão já era visível desde o início do plantão. Após o episódio, Pablo deixou o posto e nunca mais voltou. “Só continua nesses lugares quem não tem opção”, afirma.

O laudo da necropsia, divulgado em maio de 2025, confirmou que a morte da paciente foi causada por ruptura hepática — uma complicação rara, porém possível, da dengue. O Ministério Público arquivou o caso, reconhecendo que as ações do médico foram compatíveis com os protocolos e que ele fez tudo o que era possível diante da estrutura limitada da unidade, que sequer contava com tomografia ou centro cirúrgico.

Hoje, Pablo trabalha em um hospital de portas fechadas, sem atendimento direto ao público. “Ou o médico demora demais ou atende rápido demais”, lamenta. “E ninguém vê os verdadeiros culpados. Só sobra pra quem está lá, tentando fazer o que dá, sem as ferramentas certas.”

Casos de violência contra profissionais de saúde têm aumentado no Brasil, refletindo o esgotamento do sistema e a sobrecarga sobre médicos que atuam em condições precárias.

Texto/Fonte: G1