Foto: Jose Lucena/TheNewsS2/Estadão Conteúdo
Thursday, 30 de October de 2025 - 14:11:41
Megaoperação deixa mais de 120 mortos e levanta dúvidas sobre transparência e legalidade das ações policiais
VIOLÊNCIA NO RIO

A megaoperação deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, mobilizou cerca de 2,5 mil agentes das polícias Civil, Militar e Rodoviária Federal na última terça-feira (28). A ofensiva, considerada uma das maiores da história do estado, tinha como alvo a cúpula do Comando Vermelho (CV), mas terminou com mais de 120 mortos e uma série de questionamentos sobre a conduta das forças de segurança.

Enquanto o governo estadual e o secretário de Segurança Pública, Victor Santos, classificam a operação como “legal e necessária”, especialistas e entidades de direitos humanos exigem explicações sobre as circunstâncias das mortes, a falta de transparência nas imagens das câmeras corporais e a atuação das forças na área de mata onde corpos foram encontrados.

Câmeras corporais e o “Muro do Bope”

O secretário da PM, Marcelo de Menezes, afirmou que as câmeras corporais foram utilizadas, conforme determinação do Supremo Tribunal Federal, mas reconheceu que parte das gravações pode ter se perdido por falhas de bateria. Não há confirmação de quantos agentes estavam equipados, nem quando as imagens serão divulgadas.

Durante a ação, a polícia montou o chamado “Muro do Bope”, estratégia para cercar criminosos na Serra da Misericórdia e empurrá-los para a mata. O cerco teria sido criado para proteger moradores, mas ainda não está claro quantos mortos foram encurralados nessa região.

Corpos e remoção por moradores

Após os confrontos, dezenas de corpos foram encontrados na mata e removidos por moradores para uma praça do Complexo da Penha, o que, segundo o secretário da Polícia Civil, Felipe Curi, comprometeu os trabalhos periciais. A Delegacia de Homicídios investiga possível fraude processual na retirada das vítimas, algumas das quais estavam sem armamento ou coletes, em contraste com as imagens oficiais.

Até o momento, não há confirmação do número total de corpos nem informações sobre a identificação das vítimas. Entidades pedem perícia independente e maior transparência nas apurações.

O alvo: a cúpula do Comando Vermelho

A operação foi resultado de uma investigação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes, que originou 180 mandados de busca e 100 de prisão — 70 no Rio e 30 no Pará. Entre os detidos estão Thiago “Belão do Quitungo” e Nicolas Soares, apontado como operador financeiro de Edgar Alves de Andrade, o “Doca” ou “Urso”, considerado chefe máximo da facção na Penha e no Alemão.

Doca, acusado de mais de 100 homicídios, segue foragido. Segundo o Ministério Público do Rio, ele comandava o tráfico por aplicativos de mensagem, determinando punições e escalas de segurança nas comunidades.

Armas e investigação

Foram apreendidas 118 armas, incluindo 91 fuzis e 26 pistolas — um dos maiores arsenais já recolhidos em uma única ação no estado. Ainda não foi esclarecido quantas delas foram encontradas com os mortos ou abandonadas na mata.

O Ministério Público afirma que a denúncia que deu origem à operação detalha a estrutura hierárquica do CV, com 69 pessoas acusadas de associação para o tráfico. As provas incluem mensagens e vídeos em que os líderes discutem movimentações financeiras, uso de drones e controle territorial.

Apesar da dimensão e dos números apresentados pelas autoridades, persistem dúvidas centrais: quem são as vítimas, o que aconteceu com as gravações das câmeras corporais e até que ponto a operação respeitou os limites legais e humanitários determinados pelo STF.

Texto/Fonte: G1