Em entrevista à BBC News Brasil, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles defendeu o PIX, sistema brasileiro de pagamentos instantâneos, classificando-o como “rápido, eficiente e superior ao sistema de pagamento americano”. O executivo, que presidiu o Banco Central entre 2003 e 2011, afirmou que a iniciativa brasileira é vista como concorrência direta pelas grandes empresas americanas de tecnologia, como Google, Apple e Meta, motivando o governo de Donald Trump a abrir uma investigação comercial contra o Brasil.
Meirelles avaliou que as acusações de práticas desleais relacionadas ao PIX não têm fundamento claro, sendo mais uma questão conceitual, já que o sistema brasileiro promove maior eficiência para os consumidores. Segundo ele, as tarifas de 50% anunciadas pelos EUA contra produtos brasileiros refletem tanto motivações políticas quanto econômicas, incluindo insatisfação de Trump com decisões do Supremo Tribunal Federal sobre mídias sociais e a posição do Brasil nos BRICS.
O ex-ministro sugeriu que o Brasil deve estar aberto a negociações sobre tarifas, inclusive cedendo em alguns pontos, mas destacou que decisões judiciais brasileiras são “inegociáveis” e não podem ser objeto de pressão internacional. Ele também não descartou retaliações tarifárias pontuais, mas alertou para os efeitos inflacionários dessa medida.
Quanto ao cenário internacional, Meirelles ressaltou a importância de diversificar mercados, ampliando relações com China e Europa, e destacou que o Brasil não possui conflito com a China, diferentemente da relação conturbada com o governo Trump.
Sobre a política tributária interna, Meirelles comentou que o aumento do IOF é controverso e que propostas de taxação para “super-ricos” devem ser analisadas com cautela para não prejudicar a competitividade do país.
Por fim, Meirelles avaliou que a crise gerada pelas tarifas favorece o governo Lula às vésperas das eleições de 2026, dificultando candidaturas da oposição.