O cessar-fogo anunciado entre Israel e Hamas trouxe um alívio momentâneo à Faixa de Gaza, mas a realidade ainda é marcada pela destruição e pela escassez. Milhares de moradores retornam a ruas de terra, muitas vezes a pé, de mãos dadas ou em veículos improvisados, para encontrar casas e estruturas praticamente arrasadas. De acordo com a ONU, 9 em cada 10 dos 2,1 milhões de habitantes fugiram de suas residências durante o conflito.
O chef comunitário Hamada Sho descreve cenas de desespero: “As pessoas estavam perdendo peso a olhos vistos. Crianças chorando de fome, só com um pão para comer no dia todo”. O preço de itens básicos, como sacos de farinha, chegou a quase US$ 1 mil, e muitas mortes ocorreram na tentativa de buscar alimentos em centros de doação.
Em meio à devastação, iniciativas locais buscam amenizar o sofrimento, como a “Janela dos Sonhos”, coordenada pela psicóloga palestina Amira Elfarra. Crianças são incentivadas a desenhar o que gostariam de ver fora de suas janelas. Segundo Elfarra, um dos desenhos mais impactantes foi o de uma menina abraçada à amiga que morreu, refletindo a tristeza profunda vivida pelos pequenos.
O médico Paulo Reis, da ONG Médicos Sem Fronteiras, relatou dificuldades no atendimento devido à destruição de quase todos os hospitais e à escassez de recursos: “Talvez você não possa oferecer o tratamento pleno. Se usar todo o material naquele momento, não terá para os outros pacientes”.
Desde outubro de 2023, o governo brasileiro resgatou 127 pessoas da Faixa de Gaza, entre elas a família de Akram Sufyn, que perdeu 15 quilos durante o conflito. Por vídeo, ele relatou a alegria pelo fim dos combates, mas ressaltou as dificuldades para reconstruir a vida: “Acabou a guerra, mas ainda está difícil. A casa está no chão. Quem voltar agora vai encontrar uma tenda”. Apesar dos desafios, Akram mantém esperança: “O povo de Gaza merece viver”.