Após quase quatro décadas de tentativas frustradas, Celeste Lucas da Silva, de 101 anos, finalmente conseguiu o direito à aposentadoria por idade rural. O benefício foi reconhecido pela Justiça em março de 2025, e ela passou a receber os pagamentos em abril.
A trajetória da centenária começou em 1985, quando, aos 62 anos, ficou viúva de Cirino Trajano, já aposentado na época. Enquanto herdou a pensão do marido, Celeste não conseguiu obter o próprio benefício, já que a legislação então vigente restringia a aposentadoria a apenas um membro da família, geralmente o homem responsável pelo trabalho rural.
Natural de Bonfim, no Norte de Roraima, Celeste cresceu ajudando os pais na lavoura e passou a vida dedicada ao campo. Casou-se aos 15 anos, teve 15 filhos e sustentou a família cultivando banana, mandioca, melancia e mamão. Em 1991, deixou a roça e se mudou para Boa Vista, onde vive até hoje com a filha mais nova, Elizabeth da Silva Figueiredo, de 64 anos.
O processo foi retomado em dezembro de 2020, quando ela já tinha 97 anos. Apesar de um parecer favorável da Justiça em 2023, a solicitação foi negada pelo INSS sob o argumento de que, ao completar os requisitos, Celeste não morava mais na área rural. Em novembro de 2024, o advogado Rhichard Magalhães — casado com uma das netas da centenária — entrou com nova ação, desta vez obtendo decisão definitiva.
“Foi uma luta grande, mas tivemos a sensação de dever cumprido. Realizamos o sonho dela, que agora está aposentada aos 101 anos”, disse o advogado.
Hoje, o valor recebido complementa a pensão deixada pelo marido e ajuda nas despesas médicas, consultas, medicamentos e alimentação. “Dou graças a Deus. Estou feliz, recebo minha aposentadoria e a pensão, faço minhas coisas e assim vou vivendo”, comemorou Celeste.
O dia a dia da centenária continua simples: acorda cedo, se alimenta com frutas, descansa na varanda e participa de pequenas tarefas, como descascar feijão. A convivência com filhos, netos, bisnetos e até tataranetos é parte essencial de sua rotina.
A filha Elizabeth afirma que cuidar da mãe exige atenção constante, mas é também motivo de gratidão. “Ela é uma força, uma mulher de fé. Todos os dias digo para ela que a amo, de manhã e à noite”, contou, emocionada.
Faltando menos de dois meses para completar 102 anos, Celeste se prepara para celebrar mais um aniversário — desta vez com a tranquilidade de quem finalmente conquistou o direito que buscava desde os 62.