Foto: Lucas Trevisan / TV Liberal
Friday, 14 de November de 2025 - 14:17:08
Munduruku Bloqueiam Acesso à Blue Zone e Exigem Reunião com Lula
PROTESTO INDÍGENA NA COP 30

Representantes do povo Munduruku bloquearam, na manhã desta sexta-feira (14), a principal entrada da Blue Zone da COP 30, em Belém, ação articulada pelo Movimento Ipereg Ayu. A segurança no entorno do centro de convenções foi reforçada, sobretudo pelas Forças Armadas. Com o acesso fechado, delegados e participantes precisaram utilizar uma porta alternativa que normalmente funciona como saída do evento. Após o bloqueio, os indígenas foram conduzidos para uma reunião com o presidente da Conferência, André Corrêa do Lago, e com a ministra dos Povos Indígenas.

O protesto teve como pauta central a exigência de uma reunião urgente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a revogação do Decreto nº 12.600/2025, que institui o Plano Nacional de Hidrovias. O texto do decreto estabelece os rios Tapajós, Madeira e Tocantins como eixos prioritários para o escoamento de cargas — medida que, segundo os Munduruku, pode desencadear novas dragagens, o derrocamento de pedrais sagrados e a ampliação de portos privados, provocando danos ambientais e socioculturais irreversíveis.

A mobilização destacou também o avanço de grandes obras federais de infraestrutura que afetam diretamente os territórios Munduruku e outras comunidades das bacias do Tapajós e do Xingu. Os manifestantes afirmam que esses projetos vêm sendo conduzidos sem consulta prévia, livre e informada, como determina a Convenção 169 da OIT. A denúncia foi feita nas imediações da Blue Zone, área de acesso restrito da COP 30, onde cartazes chamavam atenção para o impacto de hidrovias, mineração e monoculturas sobre as populações tradicionais.

Em nota, o Movimento Ipereg Ayu reforçou ainda a rejeição a projetos de crédito de carbono e a mecanismos jurisdicionais de REDD+, discutidos paralelamente à conferência. Para os Munduruku, essas iniciativas seriam uma “venda da floresta”, facilitando a entrada de empresas e atravessadores nos territórios indígenas e enfraquecendo sua autonomia. Eles argumentam que tais propostas não enfrentam a origem das crises climáticas — como o desmatamento em larga escala, o garimpo ilegal e a expansão de megaprojetos logísticos.

O ato ocorreu diante de visitantes, delegações e equipes de imprensa, chamando atenção para o pedido de reconhecimento dos impactos diretos sofridos pelos povos da região. A manifestação foi encerrada após o encaminhamento do grupo para a reunião solicitada dentro da conferência.

Texto/Fonte: G1