A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provocou forte reação nos mercados e acendeu alertas entre economistas. No Brasil, o dólar disparou após o anúncio, elevando os temores de inflação persistente e juros altos, enquanto nos Estados Unidos a medida pode encarecer produtos como café, suco de laranja e carne bovina.
O economista Robson Gonçalves, da FGV, explica que a alta do dólar eleva o custo das importações, pressionando os preços e exigindo uma política monetária mais dura. Com a taxa básica de juros já em 15%, a maior em quase duas décadas, o risco de desaceleração econômica e até recessão aumenta.
Embora o impacto mais visível ocorra no Brasil, os consumidores americanos também podem ser afetados. O país importa cerca de um terço de todo o café consumido do Brasil, e substituí-lo não será simples. “Eles vão buscar novos fornecedores, mas o mercado não tem capacidade de suprir toda essa demanda”, alerta Gonçalves. O preço internacional do café, que já está elevado, pode subir ainda mais.
Exportações ameaçadas
O Brasil exporta cerca de 8 milhões de sacas de café por ano para os EUA. A eventual perda desse mercado seria um duro golpe para o setor e dificilmente seria compensada com outros destinos. Com mais café disponível internamente, os preços poderiam cair, mas isso pode ser neutralizado pela valorização do dólar.
Segundo Daniel Sousa, da GloboNews, o Brasil mantém déficit comercial com os EUA desde 2009. Ou seja, mesmo com o aumento das tarifas, os americanos ainda vendem mais ao Brasil do que compram. Para ele, as tarifas comprometem o comércio com um parceiro estratégico. A Associação Brasileira das Exportadoras de Carne também já expressou preocupação com os efeitos negativos sobre o setor produtivo.
O governo brasileiro tenta diversificar os mercados, buscando acordos com blocos como EFTA e União Europeia. No entanto, no caso do café, especialistas consideram improvável redirecionar todo o volume exportado aos EUA.
Reação nos EUA
Nos Estados Unidos, a tarifa pode pressionar os preços de produtos essenciais. O Brasil fornece mais da metade do suco de laranja consumido no país e 80% de todo o comércio global da bebida. Para a CitrusBR, associação que representa o setor, a medida compromete uma cadeia que gera milhares de empregos nos EUA. “É uma decisão que prejudica toda a indústria americana de sucos”, afirma o diretor Ibiapaba Netto.
Na carne bovina, os EUA enfrentam escassez e preços em alta devido à redução do rebanho nacional. O boi americano custa o dobro do brasileiro, o que havia impulsionado as importações de carne do Brasil. Agora, a sobretaxa pode piorar o quadro inflacionário local.
Apesar disso, a analista Sara Paixão, da InvestSmart, avalia que o impacto direto sobre a economia dos EUA será limitado, já que o Brasil respondeu por apenas 1,4% das importações americanas em 2024. Ela destaca, porém, que a medida pode isolar os Estados Unidos comercialmente, ao incentivar aproximações entre outros blocos econômicos.
Consequências no médio prazo
O preço do café no Brasil já subiu quase 4% após o anúncio da tarifa. E os reflexos devem continuar sendo sentidos nas próximas semanas, tanto em mercados quanto em decisões de política econômica.
Especialistas defendem que o Brasil busque negociações diplomáticas e alertam que, além dos prejuízos comerciais, a medida eleva a tensão entre os dois países em um momento de instabilidade global.