Foto: Emater - MG
Friday, 11 de April de 2025 - 15:34:36
Nova taxa dos EUA pode ajudar, mas também atrapalhar exportações de café do Brasil
TARIFAÇO DE TRUMP AFETA CAFÉ BRASILEIRO

Especialistas dizem que a nova tarifa anunciada por Donald Trump pode trazer efeitos positivos e negativos para o café brasileiro.

 

Por um lado, o Brasil pode aumentar suas vendas para os Estados Unidos, que são o principal destino do café nacional. Por outro, o preço mais alto da bebida pode fazer com que os americanos comprem menos.

 

A partir deste sábado (5), os produtos brasileiros que entrarem nos EUA passarão a pagar 10% de imposto. Hoje, o café é o principal item das exportações do agronegócio brasileiro para o país.

 

Atualmente, o grão verde do café, que representa a maior parte do que o Brasil vende aos americanos, entra sem cobrança de tarifa, segundo o Ministério da Agricultura.

 

O analista Fernando Maximiliano, da consultoria StoneX Brasil, explica que pagar imposto nunca é bom, mas o Brasil pode sair ganhando porque países concorrentes, como Vietnã e Indonésia, foram mais penalizados — com tarifas de 46% e 32%, respectivamente. Já a Colômbia, outra grande exportadora, também foi taxada em 10%.

 

Café dos EUA vem de fora

 

Os Estados Unidos quase não produzem café. “Eles só industrializam. A produção local é mínima, com poucas fazendas”, explica Marcos Matos, diretor do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

 

Hoje, o Brasil lidera o mercado americano, com 32% das vendas, seguido por Colômbia (20%), Vietnã (8%) e Honduras (7%), conforme dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

 

A maior parte do café exportado pelo Brasil é do tipo arábica, mas o robusta também tem presença importante — foram 690 mil sacas desse tipo entre as 7,3 milhões enviadas em 2024, segundo a StoneX.

 

O robusta é justamente onde está a maior chance de crescimento. Vietnã e Indonésia dominam essa parte do mercado, mas com as novas taxas, devem perder competitividade. No ano passado, os EUA importaram 1,5 milhão de sacas de robusta do Vietnã e 640 mil da Indonésia.

 

“Com essas tarifas, o café asiático perde força e o Brasil pode aproveitar a oportunidade”, avalia Maximiliano. Já em relação ao arábica, ele diz que a situação deve ficar parecida, já que os principais concorrentes do Brasil também pagarão os mesmos 10%.

 

Preço pode subir e consumo cair

 

Apesar de a situação ser mais favorável para o Brasil do que para outros países, ainda há preocupação com o impacto no consumo.

 

“O custo do café vai subir para a indústria americana e, por consequência, para o consumidor final”, alerta Matos. Segundo ele, 76% dos americanos bebem café, mas o aumento nos preços pode fazer com que parte da população consuma menos.

 

O professor Marcos Jank, do Insper, concorda. Ele afirma que o impacto das tarifas pode afetar vários setores, não só o café.

 

“Quando os impostos sobem, como agora, em alguns casos passando dos 50%, isso desorganiza a cadeia produtiva, aumenta os custos e pode causar inflação. E com isso, vem a queda no consumo”, explica.

Texto/Fonte: G1