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Tuesday, 04 de November de 2025 - 16:23:45
‘O Agente Secreto’, de Kleber Mendonça Filho, marca novo auge do cinema nacional com Wagner Moura em atuação poderosa
CINEMA BRASILEIRO EM ALTA

Kleber Mendonça Filho reafirma sua posição entre os grandes nomes do cinema brasileiro em O Agente Secreto, produção que une humor, ironia e crítica social para revisitar o passado autoritário do país. O filme, estrelado por Wagner Moura, chega aos cinemas nesta quinta-feira (6) com status de evento cultural e simboliza um novo momento de prestígio internacional para o audiovisual brasileiro, após o sucesso de Ainda Estou Aqui, vencedor do primeiro Oscar do Brasil em março.

A trama começa nos anos 1970, quando o protagonista vivido por Moura retorna à cidade natal fugindo de um passado violento e de um regime opressor. A narrativa alterna suspense, drama político e realismo fantástico, transformando o que poderia ser um thriller previsível em uma reflexão sobre a normalidade em tempos de exceção. Entre as sequências mais originais, destaca-se a inserção da lenda urbana da “perna cabeluda”, filmada com ironia e desconforto típicos do diretor.

Mendonça Filho explora referências a obras anteriores, especialmente ao documentário Retratos Fantasmas (2023), evocando a nostalgia dos antigos cinemas de rua do Recife. O início do filme é descrito por críticos como um dos mais marcantes dos últimos anos, conduzindo o espectador por um percurso visual e emocional de rara coesão.

A interpretação de Wagner Moura é o eixo emocional da obra. Aos 49 anos, o ator encarna um homem dividido entre a dor e a necessidade de sobrevivência, transmitindo vulnerabilidade com poucos gestos. O elenco de apoio reforça o brilho do protagonista: Robério Diógenes dá vida a um delegado corrupto, Udo Kier interpreta um imigrante europeu exilado do fascismo, e Tânia Maria, a grande revelação do longa, entrega uma atuação comovente como figura materna de um grupo de refugiados. Sua presença é tão marcante que deixa a sensação de que merecia mais tempo em cena.

Visualmente, o filme impressiona com o uso de locações reais em Recife, como a Vila Santo Antônio, no bairro da Boa Vista, que contribui para o realismo das situações. Mendonça alterna momentos de tensão e lirismo, conduzindo o espectador por uma jornada que mistura o absurdo e o cotidiano.

No entanto, o desfecho divide opiniões. A mudança brusca de tom e linguagem rompe com a estrutura narrativa estabelecida e pode causar estranhamento. Ainda assim, o final sugere uma metáfora sobre a incapacidade do Brasil de encarar sua própria história recente. O vilão, construído de forma mais caricata, é um dos poucos pontos que destoam do refinamento geral da obra.

Com direção segura e um olhar autoral, O Agente Secreto desponta como um forte candidato ao Oscar de 2026 na categoria de Melhor Filme Internacional, ao lado de produções como o norueguês Valor Sentimental, o francês Foi Apenas um Acidente e o sul-coreano No Other Choice. Especialistas de Hollywood também destacam Wagner Moura como um dos possíveis indicados a Melhor Ator — a revista Hollywood Reporter chegou a apontá-lo como favorito.

Até março do próximo ano, quando a cerimônia acontece, muito ainda pode mudar. Mas o lançamento de O Agente Secreto confirma o vigor e a maturidade do cinema brasileiro contemporâneo — um cinema que, mesmo revisitando feridas antigas, encontra novas formas de emocionar e provocar.

Texto/Fonte: G1