A proposta do Ministério da Saúde de incorporar a terapia celular ao SUS reacendeu o debate sobre os custos e benefícios desse tratamento avançado contra o câncer. Com valores que podem ultrapassar R$ 3 milhões por paciente, a expectativa do governo é nacionalizar etapas da produção para reduzir custos e ampliar o acesso.
A terapia celular consiste no uso de células vivas modificadas como medicamento. A mais avançada delas é a CAR-T cell, em que células T do próprio paciente são geneticamente alteradas para identificar e destruir células cancerígenas. O processo é altamente individualizado, tornando o tratamento complexo e caro.
Atualmente, a terapia é aprovada apenas para certos tipos de câncer no sangue, como leucemias, linfomas e mieloma múltiplo. Para tumores sólidos, os resultados ainda são limitados. No entanto, casos de remissão em pacientes sem alternativas terapêuticas reforçam o potencial da técnica.
O procedimento envolve a extração das células, modificação genética em laboratório — geralmente no exterior — e reinfusão no paciente, após um preparo com quimioterapia. Os efeitos colaterais incluem inflamação sistêmica e alterações neurológicas, o que exige aplicação em centros especializados.
Como o SUS ainda não cobre esse tipo de tratamento, apenas planos de saúde têm, em alguns casos, oferecido cobertura parcial, enquanto o debate sobre classificação do procedimento — se medicamento ou serviço — segue em aberto.
Para baratear o tratamento, o Brasil estuda a produção local. Fiocruz e Butantan já conduzem pesquisas nesse sentido, e modelos internacionais de remuneração por desempenho também são considerados.
Apesar das limitações, especialistas veem a terapia celular como um divisor de águas. A tecnologia, embora não seja uma cura definitiva, pode transformar o câncer em uma condição tratável a longo prazo. O desafio maior, no entanto, será garantir financiamento sustentável para viabilizar o acesso público a essa inovação.