Termos como disania, terrir e pejotização podem ser incorporados ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), documento da Academia Brasileira de Letras (ABL) que oficializa a grafia correta das palavras da norma culta brasileira. As três, junto a outras cinco expressões, estão sendo analisadas por lexicógrafos da instituição.
A decisão depende de fatores como frequência de uso em textos escritos, presença em diferentes tipos de publicações e estabilidade semântica. A inclusão não acontece de forma imediata: alguns termos podem levar anos até serem oficializados. Segundo os especialistas, o processo é rigoroso, mas acompanha a evolução da sociedade e da linguagem.
Disania – dificuldade extrema de sair da cama pela manhã, mesmo após dormir bem;
Terrir – gênero de filme que mistura terror e comédia;
Pejotização – prática de contratar um profissional como pessoa jurídica para evitar vínculo trabalhista;
Cordonel – lona revestida usada na vulcanização de pneus;
Microssono – cochilo de segundos, involuntário;
Reclínio – ato de se inclinar ou deitar-se;
Retrofitagem – modernização de edifícios antigos, sem alterar a estrutura original;
Tokenização – substituição de dados sensíveis por códigos em sistemas digitais.
A ABL mantém o Observatório Lexical, que monitora o uso de palavras ainda não oficiais. Para entrar no Volp, o vocábulo precisa aparecer em diferentes gêneros textuais — como reportagens, artigos acadêmicos e literatura — e ter uso estável. Palavras passageiras, comuns em memes ou modismos de novelas, dificilmente são aceitas. Exemplo citado foi Inshalá, popular na época da novela O Clone, mas que perdeu força posteriormente.
"Quem cria a palavra é o falante. O Volp apenas registra", afirma Ricardo Cavalieri, da Comissão de Lexicografia da ABL.
Nos últimos anos, diversos termos foram oficializados. Entre eles:
Sociais: sororidade, homoparental, antirracista, letramento racial, sudestino, empoderamento;
Tecnológicos: streaming, webinário, logar, criptomoeda, cibercrime;
Relacionados à pandemia: covid-19, lockdown, telemedicina, home office;
Outros: kombucha, poke, startup.
A língua portuguesa está em constante transformação. Novas tecnologias, mudanças sociais e contato com outras línguas levam à criação de neologismos. O processo inclui:
Empréstimos linguísticos: como bullying, podcast, personal trainer e cappuccino;
Adaptação fonética e ortográfica: football virou futebol; hot dog pode virar dogão.
Mudança de sentido: deletar, que em inglês significa apagar arquivos, virou metáfora para cortar relações em português.
“A força linguística é maior do que qualquer decreto. A língua vive na boca das pessoas”, resume o linguista Marcelo Módolo.
No fim, é o uso coletivo e contínuo que determina o destino das palavras no idioma — não a caneta de um acadêmico.