O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) divulgou nesta quarta-feira (22) o relatório “An Eye on Methane 2025”, que revela que quase 90% dos alertas de vazamento de metano enviados a 33 países permanecem sem resposta. O documento aponta que, embora as medições estejam mais precisas, a reação dos governos e das empresas segue lenta diante de um dos gases mais potentes para o aquecimento global.
Desde sua criação, o sistema MARS (Methane Alert and Response System) já identificou 3,5 mil emissões anormais, mas apenas 12% receberam algum tipo de resposta — uma melhora tímida em relação ao 1% do ano anterior. O MARS combina imagens de satélites da NASA, ESA e DLR com inteligência artificial para detectar vazamentos de metano, gás cujo poder de aquecimento é 80 vezes maior que o do dióxido de carbono (CO₂).
As imagens capturadas mostram emissões em larga escala em países como Argentina, Líbia e Iraque. Em Meseta Espinosa, na Patagônia argentina, foram registradas liberações de 4,5 toneladas de metano por hora, com impacto climático equivalente a mais de 2 mil carros rodando por um ano. No Turcomenistão, vazamentos contínuos foram observados desde 2023, sem qualquer ação corretiva.
De acordo com o PNUMA, o metano responde por cerca de um terço do aquecimento global atual e tem origens diversas — da exploração de petróleo e gás à agropecuária e à decomposição de resíduos. A diretora-executiva do órgão, Inger Andersen, destacou que “os progressos na medição são importantes, mas precisam se traduzir em reduções reais”.
O relatório também reconhece avanços na transparência das grandes empresas de energia, como as que integram a parceria Oil and Gas Methane Partnership (OGMP 2.0). O grupo reúne 153 companhias em 90 países e responde por 42% da produção global de petróleo e gás. Ainda assim, o PNUMA alerta que melhorias nos relatórios não têm resultado em reduções significativas nas emissões.
Além do setor energético, o observatório ampliou seu foco para indústrias como aço, carvão e resíduos. O Programa do Metano no Aço estima que a siderurgia, por meio do uso de carvão metalúrgico, libera 12 milhões de toneladas do gás por ano — o equivalente a quase 1 bilhão de toneladas de CO₂.
Projetos de mitigação estão em curso na Nigéria, Colômbia e Espanha, com apoio da Agência Espacial Europeia e de universidades locais. O objetivo é desenvolver soluções de baixo custo, como sistemas de ventilação e drenagem em minas e aterros sanitários.
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o CO₂ ainda é o principal responsável pelo aquecimento global — cerca de 75% do total —, e sua concentração atmosférica atingiu 420 partes por milhão em 2023, o maior nível em 800 mil anos. Cada molécula de CO₂ pode permanecer séculos na atmosfera, agravando o derretimento de geleiras, o aumento do nível do mar e eventos climáticos extremos.
Especialistas afirmam que reduzir as emissões de gases como o metano e o dióxido de carbono é essencial para conter a crise climática, o que exige mudanças profundas na matriz energética, combate ao desmatamento e investimentos em tecnologias sustentáveis.