Pela primeira vez, um relatório da ONU aponta que as emissões globais devem atingir o pico antes de 2030 e, a partir daí, iniciar uma trajetória de queda. O documento, divulgado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), avaliou 64 novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que cobrem cerca de 30% das emissões mundiais.
A análise indica que as metas atuais podem reduzir entre 11% e 24% das emissões até 2035, em relação aos níveis de 2019. Apesar do avanço, a ONU alerta que esse ritmo ainda é insuficiente para manter o aumento da temperatura global dentro do limite de 1,5 °C, meta estabelecida pelo Acordo de Paris para conter impactos extremos do aquecimento global.
Segundo o secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell, “a humanidade está claramente curvando a trajetória das emissões para baixo pela primeira vez — embora ainda não rápido o suficiente”. Ele enfatizou que “a aceleração precisa começar agora” e defendeu que a COP30, em Belém, sirva como plataforma para transformar compromissos em ações concretas.
O relatório destaca que 89% dos países agora possuem metas que abrangem toda a economia — incluindo setores de energia, transporte e agricultura — e que 73% das novas NDCs incorporam planos de adaptação. Além disso, 88% delas foram elaboradas com base no Global Stocktake, o balanço global do Acordo de Paris concluído em 2023.
Ainda assim, as reduções previstas ficariam muito abaixo do necessário: seria preciso cortar 60% das emissões até 2035 para limitar o aquecimento a 1,5 °C, mas as metas atuais levariam a uma queda média de apenas 17%. O relatório também observa que, mesmo com o progresso, o mundo segue no caminho de ultrapassar 2 °C de aumento, o que ampliaria o risco de secas, enchentes e ondas de calor intensas.
As novas metas, segundo a ONU, também reforçam a integração de aspectos sociais, como igualdade de gênero, inclusão de jovens, povos indígenas e a transição justa para trabalhadores afetados pela descarbonização.
Enquanto isso, a União Europeia enfrenta impasses internos sobre suas metas para 2035 e 2040. A proposta da Comissão Europeia prevê redução de 90% das emissões até 2040, mas enfrenta resistência de países como França, Alemanha e Itália, que pedem metas mais flexíveis para proteger suas indústrias. A divisão entre os membros é vista como um entrave político e econômico às vésperas da COP30.
De acordo com estimativas recentes, cumprir as metas climáticas exigirá investimentos da ordem de 12 trilhões de euros em infraestrutura, energias renováveis e eletrificação de transportes e indústrias. Para Stiell, o Acordo de Paris “está entregando progresso real”, mas só será eficaz se os países acelerarem suas ações e ampliarem a cooperação global.