A terça-feira em Belém foi marcada por uma guinada nas negociações climáticas e por sinais de que a COP30 pode apresentar, já nesta quarta-feira, seu primeiro conjunto de decisões. A movimentação em torno do chamado Pacote de Belém nº 1 elevou o clima de expectativa, enquanto debates sobre combustíveis fósseis, transição justa e financiamento voltaram ao centro das conversas.
MAPA DO CAMINHO PARA FASEAR FÓSSEIS GANHA APOIO
Um pedido global para estabelecer um roteiro de abandono de petróleo, carvão e gás ganhou escala. Cerca de 80 países — entre eles Colômbia, Quênia, França, Alemanha e Reino Unido — declararam apoio ao texto que define diretrizes para a transição energética. As discussões se intensificaram após a divulgação de um rascunho que passou a orientar o trabalho das delegações.
Segundo André Corrêa do Lago, presidente da COP30, o rascunho busca abrir espaço de diálogo entre países que defendem maior ambição e outros que resistem a compromissos rígidos. O Reino Unido afirmou que o tema “não pode mais ser varrido para debaixo do tapete”, enquanto a Colômbia destacou a pressão crescente da sociedade por mudanças.
FUNDO DE FLORESTAS PERDE IMPULSO
Em sentido oposto, o Fundo Florestal Tropical (TFFF) apresentou estagnação. Após atingir US$ 5,5 bilhões em aportes anunciados, o mecanismo perdeu tração. A Alemanha chegou a sinalizar novos recursos, mas recuou. Diplomatas europeus afirmam que a guerra na Ucrânia pressiona orçamentos e reduz margem para novos compromissos — cenário que colocou o fundo em compasso de espera.
TRANSIÇÃO JUSTA AVANÇA DO DISCURSO PARA O PAPEL
Outro destaque foi o texto sobre transição justa, que pela primeira vez detalha como colocar trabalhadores, comunidades locais e povos indígenas no centro de políticas climáticas. O documento reconhece direitos básicos, participação social e mecanismos de proteção para quem será impactado pelas mudanças no mercado de trabalho.
Esse avanço conversa diretamente com o Mecanismo de Ação de Belém, peça estratégica da conferência. Países em desenvolvimento querem um instrumento robusto e vinculante; parte dos países ricos prefere limitar obrigações. Movimentos sociais tratam o momento como divisor de águas e defendem que o tema precisa virar compromisso formal.
O PAPEL DOS RASCUNHOS NA NEGOCIAÇÃO
Os rascunhos divulgados na COP são termômetros do que avança ou empaca. Textos iniciais costumam chegar cheios de colchetes — marcações de trechos sem consenso. Na segunda semana, ministros entram em cena para destravar pendências e transformar rascunhos limpos em decisões provisórias, que vão à plenária final.
PACOTE DE BELÉM Nº 1 PODE SER FECHADO AINDA HOJE
A divulgação antecipada do rascunho do Pacote de Belém nº 1 surpreendeu delegações e foi vista como sinal de organização. Diplomatas passaram toda a terça-feira enviando sugestões e apontando pontos de discordância. A chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à conferência aumentou a expectativa por avanços na costura política.
CANADÁ GANHA O “FÓSSIL DO DIA”
A Climate Action Network concedeu ao Canadá o “Fóssil do Dia”, prêmio irônico destinado a países que, na visão de ativistas, atrapalham o progresso climático. O novo governo de Mark Carney foi acusado de desmontar políticas ambientais, avançar em projetos de combustíveis fósseis e se ausentar de debates-chave. A União Europeia recebeu uma menção negativa por evitar tratar financiamento para adaptação até 2030.
COCARES E SIGNIFICADOS NA ALDEIA COP
Na UFPA, onde mais de 3 mil indígenas participam da COP30, lideranças explicaram símbolos culturais presentes na conferência. Cocares podem indicar postura de defesa, acolhimento ou liderança — e alguns só podem ser usados por líderes, sob pena de causar desconforto físico. As penas, ressaltam indígenas, vêm exclusivamente de animais consumidos pelas próprias comunidades, dentro de um ciclo de respeito.
ALÉM DA IMAGEM: ACORDO DE PARIS SOB PRESSÃO
Um protesto na Blue Zone utilizou caixas formando uma Torre Eiffel para destacar a fragilidade atual do Acordo de Paris. Ativistas alertam que os compromissos nacionais ainda não colocam o mundo na rota de limitar o aquecimento a 1,5°C, o que torna decisões em Belém — especialmente sobre combustíveis fósseis — determinantes para o futuro do pacto.