Foto: Reprodução/TV Globo
Wednesday, 09 de July de 2025 - 11:32:18
Policial que matou jovem negro em SP foi considerado inapto em teste psicológico dois anos antes
PM QUE MATOU JOVEM EM SP JÁ HAVIA SIDO REPROVADO EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

O policial militar Fábio Almeida, que matou o jovem Guilherme Souza Dias, de 26 anos, na Zona Sul de São Paulo, havia sido considerado psicologicamente inapto em um concurso público no Paraná dois anos antes do crime. O g1 teve acesso ao processo do agente, que mostra sua reprovação na seleção para o cargo de Agente Auxiliar de Perícia Oficial.

Segundo os documentos, Fábio não atingiu os parâmetros exigidos em três das dez características avaliadas, com destaque para notas baixas nos quesitos Agressividade Controlada e Equilíbrio Emocional, e muito baixa em Trabalho em Equipe. Apesar disso, a banca destacou que o resultado não indicava transtorno mental, mas sim incompatibilidade com as exigências da função.

O policial recorreu administrativamente e, depois, judicialmente, questionando a avaliação com alegações de "subjetividade e irregularidade". No entanto, o juiz Diego Santos Teixeira manteve a decisão da banca, alegando que não caberia ao Judiciário interferir no mérito técnico da avaliação psicológica.

Mesmo após essa reprovação, Fábio seguiu carreira na Polícia Militar e foi o autor do disparo que matou Guilherme, em 4 de julho. O caso ocorreu quando ele estava de folga e afirmou ter reagido a uma tentativa de assalto na Estrada Ecoturística de Parelheiros. O PM alegou ter sido abordado por suspeitos armados e, ao reagir, baleou Guilherme, que não resistiu.

A vítima, negra e moradora da região, havia acabado de sair do trabalho — uma fábrica de camas — e estava a caminho de casa. Ele carregava uma mochila com marmita, livro, talheres e roupas de trabalho. A esposa afirma que ele foi morto “a sangue-frio”, pelas costas, e por motivação racial.

Testemunhas e colegas confirmaram que Guilherme saiu da empresa às 22h28, e o crime ocorreu por volta das 22h35. Registros do ponto eletrônico e mensagens no WhatsApp da vítima corroboram o relato da família.

Inicialmente preso em flagrante por homicídio culposo, o PM pagou fiança e foi liberado, sendo afastado das atividades operacionais. A Polícia Militar abriu investigação interna, e a apuração tenta esclarecer se houve falha de conduta e por que o agente avaliou Guilherme como uma ameaça.

“A ocorrência começou com o policial como vítima de um assalto, mas o erro de avaliação custou a vida de um rapaz”, disse o coronel Marcelo Massera, porta-voz da PM. Ele afirmou que a corporação busca justiça sem ignorar a complexidade do caso.

A Polícia Científica do Paraná e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo não se manifestaram. A defesa do policial afirmou que aguarda o desfecho das investigações antes de se pronunciar. O processo judicial sobre sua reprovação no concurso ainda está em andamento.

Texto/Fonte: G1