Foto: Reprodução/TV Globo
Friday, 12 de September de 2025 - 07:10:20
Polilaminina: o que se sabe sobre proteína que pode recuperar movimentos
PESQUISA COM POLILAMININA APONTA POSSIBILIDADE DE RECUPERAÇÃO DE MOVIMENTOS

A polilaminina é uma substância estudada há mais de 20 anos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trata-se de uma versão sintetizada em laboratório da laminina, proteína fundamental no desenvolvimento embrionário, responsável por auxiliar na conexão entre neurônios. A expectativa é que, aplicada diretamente no ponto da lesão medular, a substância estimule a formação de novas rotas nervosas, restaurando parte dos movimentos perdidos.

Resultados recentes em cães demonstram avanços promissores. Um estudo publicado em agosto na revista Frontiers in Veterinary Science avaliou seis cães paraplégicos, que permaneciam incapazes de andar mesmo após cirurgia e meses de fisioterapia, alguns há anos sem mobilidade. Após a aplicação da polilaminina na medula, quatro animais conseguiram retomar passos e melhorar a firmeza da marcha, enquanto dois tiveram progresso mais discreto. O acompanhamento durou seis meses, e não foram registrados efeitos colaterais graves, com exceção de um caso de diarreia sem relação comprovada com a substância.

Além dos testes em animais, pequenos grupos de voluntários brasileiros receberam a polilaminina em protocolos experimentais. Alguns participantes, que haviam perdido totalmente os movimentos abaixo da lesão, recuperaram parte da mobilidade, variando de pequenos movimentos a ganhos mais expressivos, como controle do tronco e passos com auxílio. Contudo, o número de voluntários é limitado — apenas oito — e os cientistas alertam que os resultados precisam ser confirmados em estudos maiores e controlados.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ainda não há pedido de aprovação da polilaminina para uso clínico. O que está em análise é a proposta de ensaio clínico regulatório. “A empresa responsável precisa complementar as informações de segurança antes que os testes em humanos, dentro das regras regulatórias, possam começar”, informou a agência. Até o momento, os dados disponíveis referem-se à fase não clínica, incluindo estudos laboratoriais e testes em animais.

Para que o tratamento se torne acessível em hospitais e no Sistema Único de Saúde (SUS), será necessário concluir os estudos pré-clínicos, comprovar segurança em animais, iniciar ensaios clínicos regulatórios em humanos (começando pela fase 1), ampliar os testes nas fases 2 e 3 para avaliar eficácia e doses adequadas, e, por fim, solicitar o registro sanitário. Este processo rigoroso pode levar anos.

Apesar do caminho longo, os avanços observados em animais e nos primeiros voluntários indicam potencial promissor. A polilaminina continua sendo uma das pesquisas mais relevantes na área de regeneração da medula espinhal, oferecendo esperança em um campo ainda sem solução definitiva.

Texto/Fonte: G1