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Friday, 07 de November de 2025 - 16:03:10
Por que o Rio Grande do Sul segue imune à presença do Comando Vermelho
SEGURANÇA PÚBLICA

Embora o Comando Vermelho (CV) esteja presente em presídios de 23 estados brasileiros, o Rio Grande do Sul permanece uma das poucas unidades da federação sem atuação direta da facção carioca. Especialistas apontam que isso se deve a uma combinação de fatores históricos, culturais e estruturais, que resultaram em um “ecossistema criminal próprio” no estado.

Segundo o professor Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, da PUCRS e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o RS já possuía grupos organizados antes da expansão nacional do CV, principalmente com base no Presídio Central de Porto Alegre, que durante anos foi considerado o pior do país. “Essas facções locais ocuparam o espaço criminal de forma autônoma e se consolidaram antes que o Comando Vermelho se expandisse”, explica.

O juiz Sidinei Brzuska, da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre, destaca que as organizações gaúchas passaram a expandir suas atividades para o interior, dominando novas cidades e reduzindo disputas em Porto Alegre. “Não ficou vácuo de poder para que facções de fora ocupassem”, afirma.

Outro fator é a multiplicidade de grupos locais — pelo menos dez atuam no estado, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Essa fragmentação impede a hegemonia de uma facção nacional. “Cada grupo domina nichos específicos e constrói redes próprias de proteção e financiamento”, complementa Azevedo.

Para o jornalista e pesquisador Renato Dornelles, autor do livro Falange Gaúcha, há também um componente cultural. “Existe um pacto informal entre as facções locais para não ceder espaço a grupos de fora. É uma questão de identidade e de tradição”, afirma. Brzuska reforça a tese: “O RS tem uma forte tradição cultural, e isso se reflete até na forma como o crime se organiza”.

Embora o CV não tenha presença direta, há registros de parcerias comerciais entre traficantes gaúchos e a facção do Rio de Janeiro, especialmente no fornecimento de drogas. O diretor do Instituto Cidade Segura, Alberto Kopittke, explica que essas relações são pontuais e de caráter econômico. “Há diálogo e negócio, mas não subordinação. O RS não adota a estrutura simbólica ou hierárquica do Comando Vermelho”, observa.

Enquanto o CV busca expandir fronteiras, as facções do Rio Grande do Sul adotam o caminho inverso: a interiorização. A estratégia consiste em fortalecer a presença em cidades médias, aproveitando o crescimento do consumo e das rotas que conectam o estado a outras regiões. “É uma forma de controle capilar e voltada à sustentabilidade dos negócios ilícitos”, resume Azevedo.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do RS destacou que a distância geográfica do centro do país, aliada às “peculiaridades socioculturais” e à “ação vigilante dos órgãos de segurança”, ajuda a explicar a ausência de facções nacionais no estado. A pasta reforçou, no entanto, que a situação exige monitoramento constante para manter o RS “na vanguarda da segurança pública brasileira”.

Texto/Fonte: G1