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Monday, 15 de September de 2025 - 10:40:15
Por que os voos domésticos no Brasil são tão caros?
CUSTO ELEVADO DAS PASSAGENS AÉREAS

O Brasil lidera o ranking de passagens domésticas mais caras da América Latina, com bilhetes aéreos que custam em média US$ 135 (R$ 722), quase o dobro do valor praticado no Peru, segundo levantamento da Mabrian. Um estudo projeta aumento de 12,2% nos preços neste ano, enquanto os peruanos devem subir apenas 1,7%. Comparações feitas pela Bolsa de Comércio de Córdoba mostram que, proporcionalmente, o Brasil também cobra mais caro por milha voada: US$ 0,093 (R$ 0,50), frente a US$ 0,067 (R$ 0,36) no Peru e US$ 0,043 (R$ 0,23) na Colômbia.

A DW Brasil testou rotas regionais e encontrou bilhetes entre São Paulo e Rio de Janeiro, com 357 km de distância, custando até R$ 740 a partir de Congonhas. Em contraste, percursos maiores em outros países, como Buenos Aires-Córdoba (647 km), custam R$ 251. Em Lima-Cusco (571 km), a passagem sai por R$ 237, enquanto Bogotá-Medellín (246 km) custa R$ 165. A diferença se explica pela presença das companhias low cost no exterior, modelo que cobra tarifas reduzidas em troca de serviços adicionais pagos, mas que não conseguiu se consolidar no Brasil.

Analistas atribuem a situação à concentração do mercado em três grandes empresas (Gol, Azul e Latam), aliada a altos custos estruturais, pesada carga tributária, instabilidade monetária e infraestrutura limitada. Segundo Emilio Inés Villar, da The Data Appeal Company, países como México, Colômbia e Chile criaram condições regulatórias que permitiram o crescimento das low costs, enquanto no Brasil as tentativas, como a Webjet, encerrada em 2012 após ser comprada pela Gol, não prosperaram.

Outro entrave está no ambiente regulatório e judicial. O país registra uma ação judicial contra companhias aéreas a cada 0,52 voos, enquanto nos Estados Unidos há um processo a cada 2.585 viagens. Para o especialista Adalberto Felibiano, isso cria custos adicionais e desestimula novos modelos de negócio. Ele também aponta que, ao contrário da Europa e dos EUA, o Brasil carece de aeroportos alternativos próximos a grandes centros. Em São Paulo, por exemplo, além de Congonhas e Guarulhos, apenas São José dos Campos poderia atender a esse perfil, mas não dispõe de infraestrutura adequada.

Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, os preços são ainda mais altos, com passagens ultrapassando R$ 2 mil em rotas como Belém-Brasília. Nessas áreas, a distância e a baixa rotatividade dos aviões tornam as operações menos rentáveis. Olivier Girard, da Macroinfra, lembra que nos EUA e no Canadá subsídios ajudam a manter voos em regiões remotas, enquanto na Argentina a estatal Aerolíneas Argentinas garante conectividade em áreas pouco lucrativas. No Brasil, apenas 2% dos municípios possuem serviço aéreo regular.

O governo Lula lançou em 2024 o programa Voa Brasil, que oferecia passagens a R$ 200 para aposentados do INSS em voos de baixa ocupação. A adesão, no entanto, foi mínima: apenas 1% dos bilhetes disponíveis foram vendidos. Sem alternativas viáveis, muitos especialistas defendem investimentos em outros modais de transporte.

A ausência de linhas ferroviárias de alta velocidade também pressiona o mercado aéreo. Segundo Felibiano, o eixo Rio-São Paulo é uma das rotas mais movimentadas do mundo sem trem rápido como concorrente. O chamado “trem-bala” entre as duas capitais foi anunciado em 2007 e voltou a ser debatido em 2023, quando a TAV Brasil recebeu autorização para explorar a obra. Para Girard, a implementação desse modal poderia aliviar a demanda aérea em rotas curtas, replicando a experiência europeia, onde o transporte ferroviário é o principal rival das companhias aéreas.

Texto/Fonte: G1