Três postos de combustíveis que utilizam a marca Posto Corinthians, localizados na Zona Leste de São Paulo, pertencem a empresários investigados pela Operação Carbono Oculto, deflagrada contra um esquema de lavagem de dinheiro ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). A apuração foi feita pelo g1 com base em dados da Receita Federal e da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Os estabelecimentos funcionam sob a bandeira branca, sem vínculo com distribuidoras, e estão registrados oficialmente com outras razões sociais:
Auto Posto Mega Líder Ltda – Avenida Líder, 2000 (Cidade Líder);
Auto Posto Mega Líder 2 Sociedade Unipessoal Ltda – Avenida São Miguel, 6337 (Vila Norma);
Auto Posto Rivelino Ltda – Avenida Padre Estanislau de Campos, 151 (Conjunto Habitacional Padre Manoel da Nóbrega).
Esses três postos foram divulgados pelo clube entre 2021 e 2023 como unidades oficiais do Posto Corinthians. No entanto, os registros apontam que os empreendimentos estão ligados a Luiz Ernesto Franco Monegatto, Pedro Furtado Gouveia Neto e Himad Abdallah Mourad, todos investigados por envolvimento com o grupo criminoso chefiado por Mohamad Hussein Mourad — apontado pela Justiça como figura central em um esquema de organização criminosa, fraudes tributárias e lavagem de mais de R$ 8,4 bilhões.
De acordo com o levantamento, Pedro Gouveia Neto é representante da GGX Global, empresa ligada à estrutura financeira de Mourad, enquanto Himad Mourad, seu primo, figura no quadro societário de mais de 100 postos de combustíveis relacionados ao núcleo familiar e empresarial do chefe do esquema. Já Monegatto é citado em decisões judiciais por transações imobiliárias e empresariais usadas para ocultar recursos ilícitos.
A ANP confirmou que há divergência entre os registros da Receita e os dados da agência — por exemplo, o posto Mega Líder aparece como Auto Posto Timão Ltda. — e informou que notificará as empresas para regularização, podendo aplicar sanções administrativas ou até revogar a autorização de funcionamento.
Em nota, o Corinthians afirmou que não administra diretamente os postos, apenas licencia sua marca a uma empresa intermediária responsável pelos contratos com os donos dos estabelecimentos. O clube declarou acompanhar as investigações e disse que poderá adotar medidas jurídicas caso sejam confirmadas irregularidades.
O ex-presidente Duilio Monteiro Alves, que assinou os aditivos contratuais em 2021, disse que os acordos foram firmados com empresas autorizadas por órgãos federais e que não havia indícios de irregularidade durante sua gestão. Ele destacou ainda que os contratos preveem cláusulas de responsabilização, assegurando o ressarcimento ao clube em caso de dano à imagem.
O Ministério Público de São Paulo também apura a possível infiltração do PCC em antigas gestões do Corinthians, investigando contratos e imóveis vinculados ao clube que teriam sido usados por integrantes da facção. Além disso, notas fiscais mostram abastecimentos de veículos oficiais do clube em um dos postos listados entre os 251 empreendimentos sob suspeita de ligação com o grupo criminoso.