O presidente de Madagascar, Andry Rajoelina, emitiu nesta segunda-feira (13) um decreto dissolvendo o Parlamento, poucas horas depois de os deputados, ignorando ordens presidenciais, aprovarem seu impeachment. A medida ocorreu no contexto de intensos protestos da população e de uma rebelião militar que forçou o chefe de Estado a deixar o país.
Rajoelina havia se afastado do território nacional após unidades do Exército desertarem e se unirem aos manifestantes da chamada Geração Z, que vêm ocupando as ruas de Antananarivo desde 25 de setembro exigindo a renúncia do presidente. Segundo a liderança do Parlamento, seu paradeiro atual é desconhecido, embora uma fonte tenha indicado que ele teria deixado Madagascar em um avião militar francês, possivelmente em acordo com o presidente francês Emmanuel Macron.
O coronel Michael Randrianirina, líder dos militares rebeldes, anunciou na rádio nacional que as Forças Armadas assumiram o comando do país e que todas as ordens do exército partirão do quartel-general do CAPSAT, exceto aquelas do Parlamento, que permanece formalmente intacto. O movimento militar se somou aos manifestantes, rompendo com a polícia local, que também se uniu às ruas.
A dissolução do Parlamento, segundo Rajoelina, seria necessária “para restaurar a ordem no país” e permitir a realização de novas eleições a partir de dezembro. No entanto, o líder da oposição na Assembleia, Siteny Randrianasoloniaiko, contestou a validade do decreto e reforçou que o presidente da Casa não foi consultado. Em um discurso feito de local não revelado fora do país, Rajoelina reafirmou que não deixará o governo apesar da pressão popular.
Com a saída de Rajoelina, o presidente do Senado, Jean André Ndremanjary, assumirá interinamente o comando do país até a convocação de novas eleições. A população recebeu a notícia da fuga de Rajoelina com comemorações em praças de Antananarivo, gritando “O presidente deve renunciar agora”, em atos que simbolizam a força da Geração Z, grupo nascido entre 1995 e 2009, mais crítico e engajado em causas sociais e políticas.
Os protestos, inicialmente motivados por cortes de energia e água, ampliaram-se para críticas à corrupção, à falta de oportunidades e à má gestão do governo. Desde 25 de setembro, pelo menos 22 pessoas morreram em confrontos com as forças de segurança, de acordo com a ONU. Madagascar, um dos países mais pobres do mundo, tem histórico de levantes populares, incluindo a mobilização de 2009 que levou à saída do então presidente Marc Ravalomanana e à ascensão de Rajoelina.
O episódio desta segunda-feira marca o ápice da crise política, com manifestantes e militares unidos contra o presidente, abrindo caminho para um período de transição e potencial reorganização institucional do país.