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Thursday, 18 de September de 2025 - 18:44:46
Pressão de 12 por 8 passa a ser considerada pré-hipertensão em novas diretrizes médicas
SAÚDE CARDÍACA

A hipertensão arterial, que afeta cerca de um terço da população adulta no Brasil, acaba de ganhar novas definições clínicas. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em conjunto com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), divulgou nesta quinta-feira (18), durante o 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, um documento que redefine limites e metas de tratamento da pressão arterial.

Entre as principais mudanças, a pressão considerada “normal limítrofe” de 12 por 8 mmHg passa a ser classificada como pré-hipertensão. A reclassificação se alinha a protocolos internacionais, como os apresentados em 2024 pelo Congresso Europeu de Cardiologia, que já haviam rotulado esse valor como “pressão arterial elevada”. A intenção é reforçar a prevenção em fases iniciais da doença, com estímulo a ajustes no estilo de vida e, dependendo do risco, possível prescrição de medicamentos.

Outra alteração significativa está na meta terapêutica. Até então, era aceito que manter a pressão abaixo de 14 por 9 mmHg era suficiente. Agora, a diretriz estabelece o limite em 13 por 8 mmHg para todos os pacientes hipertensos, independentemente de idade, sexo ou presença de comorbidades. Segundo os autores, esse parâmetro mais rígido reduz a probabilidade de complicações graves, como infarto, AVC e insuficiência renal. Nos casos em que a queda intensa não for tolerada, a orientação é alcançar o menor nível seguro possível.

O texto também inova ao incluir um capítulo exclusivo sobre o Sistema Único de Saúde (SUS). Considerando que aproximadamente 75% dos pacientes hipertensos são acompanhados pela rede pública, as recomendações foram adaptadas à realidade brasileira. A proposta inclui priorização de medicamentos já disponíveis no SUS, protocolos multiprofissionais e incentivo ao uso de MAPA e MRPA, sempre que viáveis. A ideia é reduzir desigualdades regionais e oferecer um guia prático a médicos e enfermeiros da atenção primária.

Pela primeira vez, a diretriz amplia o foco para além da pressão em si, considerando o risco cardiovascular global. Foi incorporado o escore PREVENT, que estima a chance de eventos cardiovasculares em dez anos, avaliando fatores como diabetes, obesidade, colesterol elevado e comprometimento de órgãos-alvo. A partir desse cálculo, médicos devem intensificar condutas em pacientes classificados como alto ou muito alto risco, aproximando o tratamento da chamada medicina de precisão.

O documento também dedica um capítulo específico à saúde feminina. Ele orienta monitorar a pressão antes e durante o uso de anticoncepcionais, destaca medicamentos seguros para gestantes hipertensas, como a metildopa e alguns bloqueadores de canais de cálcio, e reforça o acompanhamento em fases de maior vulnerabilidade, como peri e pós-menopausa. Mulheres que tiveram hipertensão gestacional também passam a exigir acompanhamento prolongado, já que o histórico eleva o risco de doenças cardiovasculares futuras.

As recomendações práticas incluem medidas já conhecidas, como perda de peso, dieta com menos sal e mais potássio, adesão ao padrão alimentar DASH, além da prática regular de atividade física. Em termos de tratamento medicamentoso, o início deve ser feito, na maioria dos casos, com dois fármacos em baixa dosagem, preferencialmente em um único comprimido. As classes mais indicadas são diuréticos tiazídicos, inibidores da ECA, bloqueadores de receptores de angiotensina e bloqueadores de canais de cálcio.

Atualmente, 27,9% dos adultos brasileiros convivem com hipertensão, mas apenas um terço tem controle adequado da pressão. Com a nova classificação, milhões de pessoas podem passar a ser consideradas em risco, o que representa um desafio para o sistema de saúde. A meta agora é transformar as diretrizes em rotina, tanto nos consultórios privados quanto nas unidades do SUS, para reduzir o impacto da doença que responde pela maioria dos infartos e AVCs no país.

Texto/Fonte: G1