A proposta do presidente Donald Trump de substituir o xarope de milho por açúcar de cana na produção da Coca-Cola nos Estados Unidos trouxe à tona a dependência do país em relação ao mercado internacional — especialmente ao Brasil, maior produtor mundial do adoçante natural.
Segundo analistas ouvidos pela Reuters, o açúcar brasileiro seria a fonte mais provável caso a medida fosse levada adiante. No entanto, a imposição de uma tarifa de importação de 50% sobre produtos do Brasil, anunciada por Trump e com vigência prevista para agosto, torna a operação inviável economicamente. “Muito provavelmente virá do Brasil, mas Trump acaba de atingir o Brasil com uma tarifa de importação de 50%”, explicou o analista Michael McDougall.
Atualmente, os EUA podem importar até 146,6 mil toneladas de açúcar brasileiro por ano sem taxação. Acima desse limite, aplica-se uma tarifa de cerca de 80%. Com o novo tarifaço, o custo do açúcar importado aumentaria ainda mais, o que impactaria diretamente os preços ao consumidor e os custos da indústria.
Nos Estados Unidos, a indústria alimentícia migrou para o uso do xarope de milho devido ao menor custo em relação ao açúcar de cana. O país produz cerca de 3,6 milhões de toneladas de açúcar de cana anualmente, metade na Flórida, reduto eleitoral de Trump, enquanto o volume de xarope de milho é de aproximadamente 7,3 milhões de toneladas.
A nova tarifa também prejudica a competitividade do açúcar brasileiro frente a outros fornecedores, como México, União Europeia, Guatemala e Tailândia, que podem ampliar sua presença no mercado norte-americano. “O acréscimo tornará o açúcar significativamente mais caro para os importadores e consumidores americanos”, alertou o analista Carlos Cogo.
Por outro lado, especialistas apontam que o Brasil não é altamente dependente das compras dos EUA. Em 2024, apenas 2,52% das exportações de açúcar do país tiveram os EUA como destino. Os principais mercados são China, Indonésia e Índia, com volumes de compra até três vezes maiores. O Brasil também atende países como os Emirados Árabes Unidos e Argélia, além de outras nações do Oriente Médio e Norte da África.
Com isso, o impacto sobre o setor brasileiro pode ser limitado, mas o efeito sobre os preços nos Estados Unidos, caso a substituição do adoçante seja adotada, tende a ser expressivo.