Podemos tentar evitar, mas é impossível fugir de todas as discussões políticas levantadas em ano eleitoral. Neste período, o tema domina todas as conversas, sobretudo as do almoço em família. O Metrópoles conta três histórias de pessoas que tiveram o núcleo familiar abalado por brigas e divisão devido às divergências políticas. Por motivos de segurança, o portal optou por não expor imagens dos entrevistados.
Fabíola Alves Fernandes, 33 anos, afirma que as eleições sempre renderam brigas no convívio familiar. As diferentes opiniões entre a UX designer e o marido no pleito de 2018 quase causaram a separação do casamento. “Já aconteceu de eu cortar pessoas da minha vida por política. Eu quase me separei do meu marido por isso”, conta.
Após quatro anos, Fabíola e o parceiro conseguiram se conciliar e lidam com as diferenças, mas novos desentendimentos apareceram na família.
As principais brigas por política, agora, são com o irmão. Elas aumentaram durante a pandemia, relata a designer. “No auge da pandemia, ele foi para uma manifestação sem máscara, e nós brigamos feio. A partir daí, nossa relação ficou bem estremecida. Foram várias discussões devido ao governo.”
No grupo de WhatsApp da família de Fabíola, as notificações não param. Tios, sobrinhos e primos trocam farpas e provocações sobre a temática. Alguns chegaram a sair, mas, segundo a designer, sempre acabam voltando.
Há quem prefira se esquivar de assuntos políticos para evitar conflitos. Íris Souto, 22, entendeu que, para manter o convívio com o pai e a irmã, ambos de direita, teria que parar de contra-argumentar seus comentários. “Eu sempre fui completamente contra a posição política da minha família, especialmente pai e irmã. Por isso, sempre me posicionei. Infelizmente, nunca tive bons resultados com as discussões, e elas chegaram a causar brigas feias com gritos e choro”, expõe.
“Hoje em dia, se tocamos no assunto, eles implicam e jogam indireta, mas eu ignoro porque não faz sentido discutir, sabendo que não vai levar a lugar nenhum. É uma situação chata”, comenta a estudante.
Após receber comentários provocativos, Belmiro Neto, de 60 anos, decidiu excluir o primo de todas as redes. “Ele [o primo] era bem próximo, mas temos ideologias políticas completamente opostas. Ele costumava fazer comentários desagradáveis em publicações políticas que eu fazia nas redes sociais. Eu fui aguentando, até decidir chamá-lo no privado um dia”, narra.
O publicitário, que inicialmente foi pedir para o primo não comentar mais nas publicações, acabou se envolvendo em uma briga que o afastou completamente do núcleo familiar. “Hoje mal nos falamos, mas quem sabe depois das eleições? Ainda assim, acho difícil, porque ele se mostrou uma pessoa intolerante.”
Psicóloga do Centro Universitário Newton Paiva, Marley Zeferino considera que, para se ter um ambiente familiar saudável mesmo com divergências, é importante manter o respeito e, se necessário, criar algumas regras para as discussões, deixando claro o momento de encerrá-las.
“A política faz parte da nossa vida. Conflitos de ideias e pontos de vista diferentes são saudáveis e servem como exercício para nosso pensamento crítico. Porém, em ambientes familiares, essas discussões podem envolver mais do que questões ideológicas, trazendo à tona questões relacionais mal resolvidas”, destaca a especialista.
Para Zerefino, ao entrar no tópico político em família, é importante “estar atento para a hora de cessar e não gerar conflitos permanentes nas relações”. “Muitas vezes essas discussões se tornam disputas de poder e de quem é certo ou errado, o que não rende bons resultados”, acentua.