Em Betânia, município do Piauí, um projeto de agricultura familiar tem feito a diferença na vida de milhares de pessoas. A cidade, que em 2010 apresentava o terceiro pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, agora colhe os frutos de uma iniciativa que traz hortaliças frescas e alimentos saudáveis para uma população que antes vivia sem acesso a esse tipo de alimento.

José Carlos Brito, também conhecido como Zé da Água, foi o idealizador do projeto “Quintais Produtivos”, criado em 2019. A iniciativa de hortas orgânicas tem melhorado a alimentação e aumentado a renda de 45 famílias da região, onde o acesso a alimentos frescos e nutritivos era quase inexistente. Hoje, a agricultura local está não só combatendo a insegurança alimentar, mas também criando novas possibilidades de desenvolvimento para a comunidade.

Deserto Alimentar e o Impacto da Agricultura Familiar

Entre 2023 e 2024, aproximadamente 25 milhões de brasileiros viviam em desertos alimentares, regiões onde o acesso a alimentos frescos e nutritivos é extremamente limitado. Betânia, por exemplo, é uma dessas áreas, com a produção de hortaliças mais próxima a 220 km de distância, em Petrolina, Pernambuco.

De acordo com o ex-diretor da FAO, José Graziano, a agricultura familiar é uma das soluções mais eficazes para combater a insegurança alimentar. No Brasil, 62% da produção de hortaliças vem dessa forma de cultivo. Graziano destaca que o incentivo a esses pequenos produtores pode ser a chave para garantir mais diversidade alimentar para a população, já que, atualmente, o consumo de frutas e verduras no país está muito abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Mudança Real na Vida das Pessoas

Com a criação da feira “Quitanda dos Quintais”, a população de Betânia passou a ter acesso direto aos produtos cultivados pelos agricultores locais. A renda gerada com a venda dos produtos tem sido uma importante fonte de sustentação para as famílias. Para a agricultora Geneilza de Sousa, a mudança foi significativa: "Antes, a gente tinha que comprar o cheiro verde, cebola, tomate, alface. E hoje a gente não precisa mais, temos para consumo e para vender."

A iniciativa tem faturado entre R$ 4 mil a R$ 5 mil por mês, e cada produtor recebe entre R$ 300 a R$ 500 mensais, o que representa uma melhoria considerável na qualidade de vida dos participantes.

Desafios para Expansão e Sustentabilidade

Apesar dos avanços, a agricultura familiar ainda enfrenta desafios, principalmente em relação ao transporte dos produtos para os centros consumidores e ao uso sustentável da água. Em Betânia, técnicas como irrigação por pote de barro e o uso de cisternas e poços artesianos têm sido implementadas para superar a escassez de água, característica comum do semiárido.

Além disso, políticas públicas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o apoio à merenda escolar são fundamentais para expandir a produção e garantir um mercado estável para os pequenos agricultores. No entanto, o financiamento e a assistência técnica rural ainda precisam de mais apoio para fortalecer essa rede no Brasil.

O Futuro da Agricultura Familiar no Brasil

O crescimento da agricultura familiar é visto como uma solução para a insegurança alimentar no país. A previsão é que o número de agricultores beneficiados por programas federais como o PAA aumente nos próximos anos, o que pode proporcionar mais oportunidades de crescimento para iniciativas como a de Betânia.

Com o apoio adequado e a ampliação de políticas públicas, a agricultura familiar tem o potencial de reduzir a fome no Brasil e transformar a realidade de milhares de pessoas que ainda vivem em desertos alimentares.