A Polícia Federal identificou que cerca de R$ 2,4 milhões em recursos desviados de contratos públicos foram direcionados para a construção da Pousada Pedra Canga, localizada na Serra de Taquaruçu, distrito de Palmas. O empreendimento está registrado em nome de Rérison Antônio Castro Leite, filho do governador Wanderlei Barbosa, afastado do cargo nesta quarta-feira (3) por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Segundo as investigações, os aportes começaram em junho de 2022 e seguiram até julho deste ano. Em mensagens interceptadas pela PF, Rérison conversa com Marcos Martins Camilo, então chefe de gabinete do governador, e comenta que “até a última vez que eu falei com ele, ele não queria que botasse nada no nome dele não”. Para os investigadores, a referência seria a Wanderlei Barbosa, que teria utilizado o filho para ocultar patrimônio.
O balanço financeiro da pousada, de acordo com a PF, registrava os repasses como se fossem investimentos de “Investidor-Anjo”, conceito usado no direito empresarial para designar aportes feitos em troca de futura participação societária. Para os investigadores, essa prática buscava justificar a origem dos valores injetados no empreendimento.
A operação também apura fraudes em contratos de fornecimento de cestas básicas e frangos congelados, firmados entre 2020 e 2021 com recursos de emendas parlamentares. Nesse período, os envolvidos teriam aproveitado o estado de emergência em saúde pública para direcionar contratos sem licitação. As compras, que somaram quase R$ 5 milhões, previam 1,6 milhão de cestas básicas, mas a suspeita é de que parte significativa dos alimentos não tenha sido entregue à população.
Os valores desviados, segundo a PF, foram ocultados em bens de luxo, aquisição de gado e despesas pessoais dos investigados. As apurações estão ligadas à Operação Fames-19, que teve novas fases deflagradas nesta semana.
Em nota, Wanderlei Barbosa declarou que respeita as instituições, mas classificou o afastamento como uma “medida precipitada”. O governador ressaltou que as compras de cestas básicas ocorreram ainda na gestão anterior, quando era vice e não ordenador de despesas. Disse ainda que determinou auditoria pela Procuradoria-Geral do Estado e pela Controladoria-Geral, além de informar que recorrerá para retomar o cargo e “enfrentar essa injustiça, assegurando a estabilidade do Estado e a continuidade dos serviços à população”.