Pesquisadores de instituições do Brasil e do Uruguai desenvolveram um medicamento experimental contra a obesidade que promete emagrecer sem interferir no apetite. Chamado de SANA (sigla para salicylate-based nitroalkene), o composto é derivado do salicilato — substância presente em plantas e com propriedades anti-inflamatórias, também usada na fabricação da aspirina.
Diferente de medicamentos já disponíveis como a semaglutida (Ozempic), que atuam no sistema nervoso central e reduzem a ingestão de alimentos, o SANA age diretamente no tecido adiposo. Ele estimula as células de gordura a gastarem energia para gerar calor, o que acelera o metabolismo e promove a perda de peso, sem alterar o apetite ou causar perda de massa magra.
Os testes com camundongos mostraram que o remédio foi capaz de:
Impedir o ganho de peso, mesmo com dieta rica em gordura;
Reduzir em até 20% o peso corporal em animais já obesos;
Melhorar a sensibilidade à insulina e reduzir a gordura no fígado.
A pesquisa, coordenada por Carlos Escande, do Institut Pasteur de Montevidéu, contou com apoio da Fapesp e a colaboração de cientistas da USP, Unicamp e UFRJ. O professor William Festuccia, da USP, explicou que o SANA representa uma abordagem inédita: em vez de reduzir a ingestão calórica, ele aumenta o gasto de energia.
Testes preliminares com voluntários obesos mostraram segurança no uso do medicamento e indícios de eficácia, como perda de peso e melhora da glicemia. No entanto, doses muito altas causaram efeitos colaterais reversíveis nos rins.
Ainda não é possível prever com precisão o impacto do SANA em humanos, mas os dados iniciais indicam que seus efeitos são semelhantes aos dos análogos de GLP-1 no mesmo período de tempo. Além disso, pesquisadores consideram possível, no futuro, o uso combinado do SANA com medicamentos como a semaglutida, já que agem por mecanismos diferentes.
A próxima etapa da pesquisa, com ensaio clínico de fase 2 em um grupo maior de voluntários, está prevista para começar ainda em 2025.