O presidente eleito da Bolívia, Rodrigo Paz, afirmou que o país “respira ventos de mudança” e que iniciará seu governo buscando reconstruir a presença boliviana no cenário internacional. Em discurso após o anúncio dos resultados, ele agradeceu aos eleitores, ao Tribunal Supremo Eleitoral e a seu adversário, Quiroga, pela postura democrática.

Paz venceu as eleições com 54,5% dos votos, com 91,2% das urnas apuradas. Ao lado de seu vice, Edman Lara, afirmou que sua gestão será baseada em “Deus, pátria e família”, princípios que, segundo ele, nortearão um governo de união nacional. O novo presidente recebeu felicitações de líderes do Panamá, Paraguai, Uruguai, Equador, Peru e dos Estados Unidos, e destacou a importância de manter laços próximos com Washington.

Durante a campanha, o candidato de centro buscou se distanciar da polarização política, propondo um programa de governo moderado. Filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, ele defende o fortalecimento institucional, especialmente do sistema judicial, para combater o crime organizado, além da modernização das Forças Armadas e adoção de tecnologias digitais avançadas.

Na economia, sua principal proposta, chamada de “capitalismo para todos”, busca equilibrar o incentivo ao setor privado com políticas sociais para a população mais pobre. Paz defende a formalização do trabalho informal, a redução de gastos públicos e a descentralização do Estado. Segundo ele, “a Bolívia trabalha com capital, não com ideologia”, em referência à gestão socialista anterior.

Especialistas, no entanto, apontam desafios à execução do plano. O pesquisador Jonathan Fortun, do Instituto de Finanças Internacionais, afirmou que o país enfrenta um grande déficit fiscal e que um ajuste econômico será inevitável.

Em relação ao Brasil, Paz prometeu manter a parceria estratégica e reforçar a cooperação dentro do Mercosul e do Brics, apesar de discordar do governo Lula em alguns pontos. Ele também declarou que pretende adotar uma diplomacia pragmática com os Estados Unidos, liderados por Donald Trump, sem se guiar por alinhamentos ideológicos.

A eleição de Paz encerra 20 anos de hegemonia do Movimento ao Socialismo (MAS), liderado por Evo Morales e sucedido por Luis Arce. O país atravessa uma das piores crises econômicas em quatro décadas, com inflação acima de 23%, escassez de dólares e combustíveis e filas por produtos subsidiados — cenário que impulsionou o desejo de mudança nas urnas.