O soldado da Polícia Militar Lucas Neto foi preso em flagrante por desacato após um atendimento no Hospital da Polícia Militar de São Paulo, na quarta-feira (18). O motivo alegado foi o suposto desrespeito ao médico que o atendia, o capitão Marcelo Cavalcante Costa, quando o soldado teria se referido a ele como “você” e virado as costas durante a consulta.
Porém, áudios gravados pelo próprio policial durante o atendimento, aos quais o g1 teve acesso, não confirmam a acusação. Em nenhum momento é possível ouvir o soldado usando o pronome “você” ou demonstrando desrespeito direto. A defesa afirma que Lucas se referiu ao médico apenas como “senhor” e “comandante”, e que virou as costas apenas após a autorização da major-chefe do setor.
A advogada Fernanda Borges de Aquino, que acompanhava o soldado, foi impedida de permanecer na sala, o que teria gerado o atrito com o médico. O caso gerou reação entre policiais e especialistas, que apontam exagero na prisão, conduzida com base no Artigo 160 do Código Penal Militar, que trata de desrespeito a superior na presença de outros militares.
O advogado Mauro Ribas Júnior, ex-PM que representa Lucas Neto, argumenta que mesmo que o soldado tivesse usado o termo “você”, isso configuraria, no máximo, transgressão disciplinar, e não crime militar. “Não cabe prisão por um pronome. É desproporcional e fora do razoável”, afirmou.
O coronel aposentado José Vicente, que integrou a PM por mais de 30 anos, também considerou a detenção um exagero. “Nunca vi uma prisão por chamar alguém de 'você'. Isso se resolve com uma conversa, um puxão de orelha. Mandar prender é um desvio do uso do poder militar”, criticou.
Lucas Neto foi levado ao Presídio Militar Romão Gomes, onde passou a noite, mas foi liberado após audiência de custódia na manhã de quinta-feira (19). O caso está sob investigação da Corregedoria da PM e reacende o debate sobre hierarquia, abuso de autoridade e proporcionalidade nas forças de segurança.