Foto: Reprodução/TV Globo
Thursday, 13 de November de 2025 - 18:03:41
‘Sou o único capaz de derrubar Trump’, disse Epstein em mensagem divulgada pelo Congresso
E-MAILS DE EPSTEIN TENSIONAM RELAÇÃO COM O GOVERNO TRUMP

A publicação de uma série de e-mails de Jeffrey Epstein pelo Congresso dos Estados Unidos reacendeu questionamentos sobre a relação entre o bilionário e o presidente Donald Trump. Entre os documentos está uma troca de mensagens de dezembro de 2018, na qual Epstein afirma a um conhecido — cuja identidade não foi revelada — ser “o único capaz de derrubar” o então mandatário, em um momento em que a investigação judicial avançava rapidamente contra ele.

A essa altura, a antiga amizade entre os dois já havia se rompido havia mais de uma década. O vínculo, que atravessou os anos 1990 e o início dos anos 2000, teria se deteriorado em meio a divergências pessoais e ao surgimento das primeiras acusações públicas contra Epstein. Segundo o “Miami Herald”, reportagens publicadas no fim de 2018 revelaram que um secretário de Trump havia assinado o acordo extrajudicial que, dez anos antes, permitiu ao bilionário escapar de uma pena mais severa por exploração sexual de menores — fato que motivou o Departamento de Justiça a abrir uma investigação criminal para demonstrar distanciamento do governo em relação ao caso.

Grande parte das mensagens mencionadas por Epstein ao tratar de Trump, apontou o “New York Times”, é trivial. Em um e-mail de 2015, por exemplo, o empresário comenta que, naquele momento, Trump — então apenas pré-candidato — “amedrontava os mercados”, não a China. Em outro arquivo liberado pelo Congresso, no entanto, Epstein afirma que o atual presidente dos EUA “passou horas” em sua casa acompanhado de uma das vítimas, em uma declaração cuja veracidade e contexto seguem sendo disputados.

A liberação dos e-mails ocorreu enquanto parlamentares, inclusive republicanos, recolhiam assinaturas para votar uma moção que obriga o Executivo a divulgar integralmente os documentos da investigação sobre Epstein. Mesmo com apoio bipartidário, a proposta deve enfrentar resistência no Senado e poderia ainda ser vetada pelo próprio Trump, criando um constrangimento político para o presidente, que durante a campanha de 2024 prometera tornar públicos arquivos sigilosos sobre o caso.

Embora Epstein descreva situações que sugeririam conhecimento prévio de Trump sobre sua conduta, o presidente nunca foi investigado por crimes ligados ao bilionário. A Casa Branca reafirma que não há indícios de irregularidade e acusa democratas de explorar politicamente o tema. Em agosto, a porta-voz Karoline Leavitt já havia rejeitado como falso um documento divulgado por opositores que atribuía a Trump um desenho e uma carta dedicados a Epstein, supostamente produzidos em 2003.

Os e-mails divulgados também abordam a rotina de Epstein e descrevem sua rede de exploração sexual, que, segundo o governo dos Estados Unidos, vitimou mais de 250 meninas menores de idade. O bilionário — que circulava entre magnatas de Wall Street, figuras da realeza e celebridades — foi investigado inicialmente em 2005 e, apesar de ter firmado um acordo judicial em 2008, voltou a ser preso em julho de 2019, acusado de liderar um esquema de abusos e recrutamento de menores. Ele morreu um mês depois, em sua cela, em circunstâncias oficialmente descritas como suicídio.

Desde então, diversos arquivos vinham sendo mantidos sob sigilo, e a pressão política para revelá-los aumentou após um parecer do Departamento de Justiça, no começo deste ano, afirmar não haver evidências de que uma suposta “lista de clientes de Epstein” realmente existisse. O recuo irritou apoiadores de Trump, muitos dos quais propagavam teorias da conspiração sobre o escândalo e viam no presidente uma figura que poderia esclarecer o caso. Em paralelo, reportagens do “Wall Street Journal” afirmaram que Trump teria sido comunicado pelo Departamento de Justiça de que seu nome aparecia em documentos da investigação — algo que a Casa Branca chamou de “fake news”.

Nas mensagens agora publicadas, Epstein também discute como deveria responder à imprensa a respeito de sua relação com Trump, então em ascensão como figura política nacional. Em um e-mail enviado a Ghislaine Maxwell, parceira e cúmplice do bilionário, escreveu que “o cachorro que não latiu é Trump”, sugerindo que o presidente nunca o mencionava publicamente, apesar de episódios do passado envolvendo ambos e uma das vítimas.

O caso, que já atravessa décadas, volta a ter impacto direto na política em Washington. A moção para tornar públicos os arquivos promete prolongar o desgaste do governo, ao mesmo tempo em que mantém acesas as disputas partidárias sobre até onde o presidente Trump deve ir na divulgação de documentos ligados ao escândalo sexual mais explosivo da era recente dos Estados Unidos.

Texto/Fonte: G1