O governo brasileiro recebeu nesta quarta-feira (9) a notificação oficial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para o mercado norte-americano, valor que representa a maior taxa aplicada entre os oito países notificados nesta segunda leva de cartas. Ao todo, 22 países já foram comunicados sobre tarifas que variam entre 20% e 50%, com início previsto para 1º de agosto de 2025.
Além do Brasil, países como Argélia, Brunei, Filipinas, Iraque, Líbia, Moldávia e Sri Lanka receberam notificações, mas com alíquotas inferiores. Por exemplo, as Filipinas terão uma taxa mínima de 20%, enquanto a África do Sul e a Argélia foram enquadradas em 30%.
A carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva critica o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF), classificando-o como "uma vergonha internacional" e uma "Caça às Bruxas que deve acabar imediatamente". Trump também acusa o Brasil, sem apresentar provas, de ataques contra eleições livres e de impor censura a plataformas digitais americanas, ameaçando-as com multas e expulsão do mercado brasileiro.
Trump justifica a tarifa afirmando que a relação comercial entre os dois países é "injusta" e que o Brasil mantém barreiras tarifárias e não tarifárias que, segundo ele, geram um déficit comercial insustentável para os EUA. Dados oficiais indicam que, na realidade, os Estados Unidos mantêm um superávit comercial com o Brasil de US$ 90,28 bilhões até junho de 2025.
O presidente americano afirmou ainda que a tarifa não será aplicada caso empresas brasileiras optem por produzir diretamente nos Estados Unidos, além de ameaçar aumentar a alíquota caso o Brasil eleve suas próprias tarifas.
Em resposta, Lula afirmou que o Brasil é um país soberano, com instituições independentes, e que não aceitará tutelagem externa. Ressaltou que o processo judicial contra Bolsonaro é competência exclusiva da Justiça brasileira e defendeu a liberdade de expressão conforme a legislação nacional. Lula reafirmou ainda o compromisso do país com a soberania, respeito e defesa dos interesses brasileiros, defendendo o multilateralismo nas relações internacionais.
Além do aspecto comercial, Trump ameaçou aplicar uma tarifa adicional de 10% a qualquer país integrante do Brics, grupo que inclui o Brasil, como forma de retaliação por ações que, segundo ele, visam prejudicar os EUA e desafiar a hegemonia do dólar como moeda global.
A medida, além de criar uma nova fase de tensão nas relações Brasil-EUA, acende um alerta para impactos sobre setores exportadores brasileiros, sobretudo siderurgia e agronegócio, que já sofrem com tarifas específicas impostas pelos EUA. A aplicação da tarifa de 50% terá efeitos diretos no comércio bilateral e poderá levar a retaliações brasileiras, conforme sinalizou o governo de Lula.
O episódio reforça o clima de instabilidade nas negociações comerciais globais, onde interesses políticos muitas vezes se sobrepõem às questões econômicas tradicionais.