O suco de laranja brasileiro, líder mundial em exportações, tornou-se um dos principais alvos do tarifaço anunciado por Donald Trump. A nova medida pode elevar os impostos sobre o produto para até 70% do valor total, ameaçando a renda de pequenos produtores, a geração de empregos e a estabilidade econômica de diversos municípios brasileiros.
O impacto pode ser devastador: atualmente, o Brasil responde por 75% do comércio internacional de suco de laranja. Só o estado de São Paulo concentra a maior produção mundial da fruta, e a cadeia do setor movimenta cerca de 200 mil empregos diretos e indiretos.
Empresários e especialistas alertam que o aumento da tarifa reduz drasticamente a margem de lucro do setor — restando apenas 30% do valor das exportações para cobrir os custos com insumos, logística, mão de obra e indústria.
“A produção da Flórida, que antes era concorrente direta, hoje representa uma fração do que foi no passado”, explica Ibiapaba Netto, diretor da CitrusBR. Segundo ele, metade do suco consumido nos EUA atualmente vem do Brasil. “Se a nova tarifa entrar em vigor, o impacto será sentido em toda a cadeia, especialmente entre os pequenos produtores”, reforça.
A indústria opera com alta tecnologia, mas o processo começa com colheitas manuais. A logística inclui envios em tanques assépticos resfriados a -10°C. A cada tonelada exportada, já se paga US$ 415 de imposto — número que pode saltar caso o tarifaço se concretize.
Economistas também apontam efeitos secundários da medida: o encarecimento das exportações pode pressionar o dólar, aumentar a inflação e provocar fuga de capitais, gerando reflexos negativos em diversas áreas da economia brasileira.
A retaliação americana foi acompanhada por críticas políticas. Em carta pública, Trump relacionou a medida à “perseguição” judicial ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O governo Lula, por sua vez, afirma que o gesto é motivado por desinformação e estuda responder com tarifas recíprocas.
Enquanto isso, o setor espera que empresas americanas pressionem a Casa Branca para reverter a decisão, dada a dependência do mercado dos EUA pelo suco brasileiro. “Esperamos um bom desfecho, e que no final possamos brindar com suco de laranja”, declarou Netto.