A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos tem como pano de fundo a situação judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente americano Donald Trump criticou duramente o julgamento do aliado brasileiro no Supremo Tribunal Federal (STF), classificando o processo como uma “vergonha internacional” e uma “caça às bruxas que deve acabar imediatamente”.
O governo dos EUA anunciou que a nova tarifa entra em vigor no dia 1º de agosto, sem apresentar justificativas econômicas concretas. Para especialistas, a medida tem caráter essencialmente político, já que Bolsonaro responde a processos no Brasil por tentativa de golpe de Estado e foi declarado inelegível por oito anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O ex-presidente é réu em ação penal no STF desde março de 2025. A Procuradoria-Geral da República o denunciou, ao lado de aliados, por cinco crimes: tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
A denúncia afirma que Bolsonaro integrava o núcleo central de um grupo com o objetivo de romper com a ordem democrática após as eleições de 2022. O processo está na fase final das alegações das partes, antecedendo o julgamento que definirá sua responsabilização.
Além da esfera criminal, Bolsonaro já foi condenado duas vezes pelo TSE, ficando impedido de disputar eleições até 2030. A primeira condenação ocorreu em julho de 2023, quando o tribunal entendeu que o ex-presidente utilizou a reunião com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada para atacar, sem provas, o sistema eleitoral brasileiro.
A segunda condenação, em outubro de 2023, foi pelo uso político das comemorações do 7 de Setembro. Ambos os casos foram objeto de recursos ao STF, mas as decisões mantêm a inelegibilidade de Bolsonaro até o fim da década.
Para analistas e representantes do setor econômico, a decisão de Trump não apenas fere as relações comerciais entre os dois países como escancara a tentativa de interferência externa em processos internos da democracia brasileira.