O simples ato de sentar e levantar de uma cadeira pode revelar muito sobre a saúde muscular e o risco de quedas, especialmente entre idosos. O chamado “teste de se sentar e se levantar da cadeira” é amplamente utilizado em geriatria como ferramenta para avaliar a força dos membros inferiores e identificar sinais de fragilidade ou sarcopenia — condição caracterizada pela perda progressiva de massa e função muscular.
A presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Isabela Azevedo Trindade, explica que o exame funciona como um “retrato funcional” do paciente. “É um teste simples, rápido e sem custo, muito usado por médicos e fisioterapeutas. Ele mostra não só a força dos membros inferiores, mas também o quanto o idoso consegue manter sua independência e autonomia”, afirma.
Durante o teste, o participante deve cruzar os braços sobre os ombros e realizar o movimento de sentar e levantar, mantendo ângulos de 90 graus nos joelhos, quadris e tornozelos. É essencial se sentar completamente entre as repetições — apenas encostar na cadeira não é válido.
Existem duas formas principais de avaliação:
Cinco repetições cronometradas: o tempo deve ser inferior a 15 segundos, segundo a SBGG. Um desempenho acima desse limite indica perda de força muscular.
Repetições em 30 segundos: contabiliza-se quantas vezes o indivíduo consegue sentar e levantar nesse período, método usado também em faixas etárias mais jovens.
Pontuações abaixo dos valores de referência sugerem menor força nas pernas e maior risco de quedas, apontando possíveis falhas de equilíbrio e controle postural.
Trindade relata que o teste pode fazer parte do tratamento, permitindo acompanhar a evolução do paciente. “O mais importante é o movimento. Quanto mais ativa a pessoa se mantém, mais autonomia e força ela preserva”, diz. Ela cita o caso de uma paciente de 75 anos que, ao realizar o teste, compreendeu suas limitações e passou a aderir com mais motivação à fisioterapia, recuperando a independência após o treinamento.
A sarcopenia, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde desde 2016, afeta milhões de idosos em todo o mundo e é hoje considerada um dos novos “gigantes da geriatria”. O distúrbio aumenta o risco de quedas, incapacidade e até mortalidade.
De acordo com a SBGG, a prevalência varia de 5% a 13% entre pessoas de 60 a 70 anos e pode chegar a 50% em idosos acima dos 80 anos. Em São Paulo, o estudo SABE indica taxa de 15,4%, enquanto no Rio de Janeiro o levantamento FIBRA aponta 10,8%. Entre homens institucionalizados, a ocorrência atinge até 51%.
As causas da sarcopenia podem estar ligadas ao envelhecimento natural (forma primária) ou a fatores secundários, como baixa ingestão de proteínas, doenças crônicas, hospitalizações, uso de medicamentos, sedentarismo e imobilidade prolongada. Mesmo com alta incidência, o diagnóstico ainda é subnotificado — cerca de 30% dos médicos não especialistas em geriatria desconhecem os critérios clínicos para identificar a doença, segundo pesquisa da própria SBGG.