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Friday, 17 de October de 2025 - 18:54:05
Trabalho em plataformas digitais já emprega 1,7 milhão de pessoas, aponta IBGE
ECONOMIA DIGITAL

O Brasil registrou, em 2024, um total de 1,7 milhão de pessoas atuando por meio de plataformas digitais, segundo dados do IBGE divulgados nesta sexta-feira. O número representa 1,9% dos trabalhadores do setor privado e marca um aumento em relação ao fim de 2022, quando eram 1,3 milhão (1,5%). O levantamento integra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) e foi desenvolvido em parceria com a Unicamp e o Ministério Público do Trabalho.

A pesquisa identificou quatro grandes grupos de plataformas. Os aplicativos de transporte particular concentram 53,1% dos trabalhadores (878 mil pessoas), seguidos pelos de entrega de produtos e alimentos (29,3%), de serviços gerais e profissionais (17,8%) e de táxi (13,8%). Considerando o total de motoristas, inclusive taxistas, o país chegou a 964 mil trabalhadores, o que representa 58,3% dos plataformizados.

Entre 2022 e 2024, todas as categorias cresceram, com destaque para as plataformas de serviços gerais, que avançaram 52,1%. O número de motoristas de transporte particular aumentou 29,2%, enquanto o de entregadores subiu 8,9%.

O perfil dos trabalhadores revela predominância masculina: 83,9% são homens e 16,1% mulheres. Quase metade tem entre 25 e 39 anos e a maioria (59,3%) completou o ensino médio. Apenas 16,6% possuem ensino superior, e 9,3% não concluíram o fundamental.

A renda média dos trabalhadores por aplicativo foi de R$ 2.996 em 2024, 4,2% acima da dos demais ocupados (R$ 2.875). No entanto, o valor por hora — R$ 15,40 — é 8,3% inferior ao dos trabalhadores fora das plataformas (R$ 16,80). Essa diferença se deve, em grande parte, à carga horária mais extensa: 44,8 horas semanais, contra 39,3 horas dos demais.

Segundo o analista do IBGE Gustavo Geaquinto Fontes, o rendimento menor entre profissionais com ensino superior se explica porque muitos exercem funções abaixo da qualificação, como motoristas de aplicativo. Já entre os menos escolarizados, a renda é maior devido à comparação com ocupações informais de baixa remuneração.

A informalidade é um dos principais desafios do setor: 71,1% dos trabalhadores não possuem registro formal. Apenas 35,9% contribuem para a Previdência Social — proporção que chega a 51,8% no Sul e cai para 15,4% no Norte.

A pesquisa também mostra que a maioria dos trabalhadores tem pouca autonomia. Mais de 90% dos motoristas de transporte particular e 81% dos entregadores afirmam que os valores pagos são definidos pelas plataformas, que também controlam a escolha de clientes e prazos de execução.

Regionalmente, o Sudeste concentra 53,7% dos trabalhadores plataformizados, com 888 mil pessoas. As regiões Centro-Oeste e Norte registraram as maiores taxas de crescimento — 58,8% e 56%, respectivamente.

Os dados reforçam que o trabalho mediado por aplicativos se consolida como uma tendência estrutural no mercado brasileiro, mas ainda marcada por informalidade, longas jornadas e baixa proteção social.

Texto/Fonte: G1