Nas montanhas Madonie, na Sicília, uma antiga tradição voltou a ganhar vida: a colheita do maná. Essa substância branca, retirada da casca dos freixos, é usada há séculos como adoçante e remédio natural.

O responsável por esse renascimento é Giulio Gelardi, agricultor local que decidiu recuperar o costume quase esquecido. "Você veio na época certa", diz ele, mostrando o maná escorrendo de um galho.

A prática de colher o maná, uma seiva rica em minerais, quase desapareceu com a urbanização e o avanço da indústria. Ela era comum em todo o Mediterrâneo, mas perdeu espaço após a Segunda Guerra Mundial, quando o manitol, principal composto do maná, passou a ser produzido artificialmente.

Em 1985, após anos longe de casa, Gelardi voltou a Pollina, sua cidade natal, e encontrou a tradição quase extinta. Ele decidiu, então, resgatar esse saber passado de geração em geração. "Quando eu era criança, todos sabiam colher maná", conta. "Quando voltei, sobravam poucos que ainda lembravam como fazer."

A extração do maná exige experiência. A árvore precisa estar no momento certo para que a seiva escorra com qualidade. Cortes feitos antes da hora podem atrapalhar a produção.

Com a ajuda de produtores mais antigos, Gelardi reaprendeu as técnicas e criou um método mais higiênico de coleta, usando bicos de alumínio e linhas de pesca para evitar o contato direto com a árvore. Isso aumentou a produção e reduziu o risco de contaminação.

Hoje, o maná voltou a ser valorizado na região. Chefs locais passaram a usar o ingrediente em pratos doces e salgados. Restaurantes servem desde risotos até sobremesas com o "ouro branco" das Madonie, que pode custar até 200 euros o quilo.

Além de seu sabor suave, parecido com cana-de-açúcar e notas de amêndoas, o maná é rico em potássio, magnésio e cálcio. Por ter baixo índice glicêmico, também é indicado para pessoas com diabetes ou em dietas com pouco açúcar.

Em 2015, Gelardi ajudou a criar o Consórcio de Maná das Madonie, que reúne produtores e promove a tradição entre os jovens. Um deles é Mario Cicero, chef que voltou à cidade natal para aprender com os mais experientes.

“Cada jovem que aprende a colher maná ajuda a manter viva essa tradição”, afirma Gelardi, orgulhoso de ver o costume ganhando nova vida.