A exposição de uma suposta traição envolvendo dois colegas de trabalho reacendeu o debate sobre relacionamentos afetivos no ambiente corporativo. O caso ganhou repercussão internacional após um vídeo viralizar, mostrando um casal em situação íntima durante o expediente. A polêmica envolveu um CEO e uma funcionária da empresa Astronomer, nos Estados Unidos, e causou reações tanto na companhia quanto nas redes sociais — inclusive com mudanças públicas feitas pela esposa do executivo em seus perfis.

Especialistas ouvidos pelo g1 explicam que, embora não exista proibição legal para romances entre colegas, empresas podem adotar regras específicas para preservar o ambiente de trabalho e a imagem institucional. Segundo o advogado trabalhista Ronaldo Ferreira Tolentino, casos como esse podem ser enquadrados, em último caso, como “incontinência de conduta”, prevista no artigo 482 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), embora a jurisprudência brasileira não favoreça essa interpretação em geral.

A advogada Ana Gabriela Burlamaqui destaca que demonstrações públicas de afeto podem sim resultar em sanções, inclusive demissão, se contrariem normas internas previamente divulgadas. No entanto, ela reforça que demissões por justa causa exigem comprovação de que houve uma infração grave o suficiente, e que apenas manter um relacionamento em segredo não é motivo legal para essa penalidade.

O debate também envolve os limites da atuação da empresa na vida privada dos funcionários. Cristina Pena, outra advogada consultada, lembra que a Constituição Federal assegura o direito à intimidade e à vida privada, e que normas genéricas que proíbem a contratação de cônjuges podem ser consideradas discriminatórias.

Além disso, situações como o pedido de férias simultâneas ou turnos compatíveis entre casais são possíveis, mas não obrigatórias, e dependem da política interna da empresa ou de acordos coletivos.

A repercussão do caso mostra como a conduta pessoal pode afetar o ambiente profissional — e como os limites entre a vida privada e a cultura corporativa continuam a ser tema de discussões complexas no mercado de trabalho.