Pequenos pecuaristas de Mato Grosso estão vivenciando uma transformação com o Projeto de Melhoramento Genético do Rebanho Leiteiro, promovido pela Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf). A iniciativa aplica biotecnologia de ponta — como a transferência de embriões sexados de fêmeas Girolando ½ sangue — para impulsionar a produtividade e a renda de produtores da agricultura familiar.
Desde 2020, mais de R$ 6,7 milhões foram investidos na ação, que já beneficiou 1.043 produtores em 32 municípios, totalizando 3.894 prenhezes confirmadas até o momento. Os embriões implantados resultam do cruzamento entre vacas Gir Leiteiro e touros holandeses, com genética avaliada internacionalmente. Sozinhos, os pequenos produtores não teriam acesso a esse material, cujo custo varia entre R$ 3 mil e R$ 4 mil por unidade.
A secretária Andreia Fujioka destaca que o maior entrave da cadeia leiteira no estado é a baixa qualidade genética dos rebanhos, e que o projeto representa uma mudança concreta ao possibilitar competitividade e renda ao agricultor. “É inclusão produtiva baseada em ciência, garantindo dignidade no campo”, afirmou.
Exemplo disso é o produtor Ademirson Machado, do assentamento Dom Osório, em Campo Verde. Ele recebeu embriões em 2023 e já contabiliza o nascimento de dez novilhas de alto padrão genético. “Com essa genética, posso chegar a 35 litros de leite por vaca, frente à média atual de 25. Isso muda tudo”, disse.
Estudos da Seaf apontam que os animais oriundos do projeto devem produzir, no mínimo, 15 litros de leite por dia — muito acima da média estadual de 4,34 litros. A renda mensal pode aumentar em até R$ 735 por vaca, o que pode triplicar o faturamento de muitos produtores. Além disso, o programa fortalece a assistência técnica no campo.
A execução do projeto conta com o apoio da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), prefeituras e associações. Os técnicos acompanham todas as etapas: da seleção das propriedades à coleta de dados após os nascimentos.
Suelme Fernandes, presidente da Empaer, ressalta que a iniciativa é uma das mais estratégicas já aplicadas na extensão rural mato-grossense. “Estamos democratizando o acesso à genética de excelência e garantindo que os resultados cheguem até a porteira do produtor”, disse.
Em Campo Verde, o impacto já é visível. O secretário municipal de Agricultura, Juraci Vasto, afirmou que algumas novilhas prenhas da primeira fase do projeto já estão em nova gestação. O agrônomo Marcelo Furtado e o técnico Kênio Batista Nogueira também destacam os efeitos positivos, como geração de renda, permanência das famílias no campo e fortalecimento da sustentabilidade.
O projeto prevê a entrega de 2 mil prenhezes em quatro etapas, abrangendo todas as regiões do estado. Já considerado referência nacional no uso de biotecnologia reprodutiva para agricultura familiar, o programa se alinha à política estadual de desenvolvimento rural sustentável, promovendo segurança alimentar e inclusão produtiva.