As tensões entre Estados Unidos e Venezuela atingiram um novo patamar após o presidente Donald Trump confirmar, nesta terça-feira (14), que autorizou operações secretas da CIA contra o governo de Nicolás Maduro. A revelação, feita em entrevista coletiva na Casa Branca, marca uma mudança de tom nas relações entre os dois países, que já vinham se deteriorando desde agosto, quando Washington enviou navios e aeronaves militares para o sul do Caribe.
O anúncio veio após o “New York Times” divulgar que o governo americano estaria preparando ações letais na Venezuela. Trump não negou a informação e afirmou que as operações são necessárias para conter o tráfico de drogas e a entrada de criminosos nos Estados Unidos. “Cada barco que destruímos salva 25 mil vidas de americanos”, declarou, indicando que as forças americanas podem expandir as operações “para a terra”.
Nos últimos meses, ao menos oito embarcações militares e um submarino nuclear foram posicionados próximos à costa venezuelana. As forças norte-americanas já bombardearam barcos suspeitos de transportar entorpecentes, alegando combater o tráfico internacional. O Departamento de Justiça também ofereceu uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à prisão de Maduro, acusado de chefiar o chamado “Cartel de los Soles” — grupo descrito pelos EUA como uma rede narcoterrorista.
O governo venezuelano reagiu de forma contundente. Maduro denunciou o que chamou de “golpe de Estado da CIA” e classificou as declarações de Trump como “belicistas”. O Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota acusando Washington de buscar “legitimar uma operação de mudança de regime” para se apropriar do petróleo venezuelano.
Especialistas veem a movimentação americana como o prenúncio de uma ofensiva maior. Maurício Santoro, doutor em Ciência Política e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil, avalia que os EUA podem estar planejando uma ação político-militar para derrubar Maduro. Ele cita três hipóteses: ataques a alvos estratégicos, tentativas de capturar líderes venezuelanos ou o incentivo a uma revolta popular.
“Estamos possivelmente na iminência de um ataque de larga escala. Se isso acontecer, será a primeira vez que os Estados Unidos atacam militarmente um país da América do Sul”, afirmou Santoro.
Na quarta-feira (15), a escalada ganhou novo capítulo: três bombardeiros B-52 sobrevoaram uma área próxima ao território venezuelano, em uma manobra vista como provocação. As aeronaves, com capacidade nuclear, voaram sobre a “Região de Informação de Voo” venezuelana — espaço aéreo sob jurisdição do país, mas fora de suas fronteiras. Para Santoro, o gesto foi um “ensaio geral” para futuros bombardeios e um teste das defesas aéreas da Venezuela.
Imagens de radar mostraram que os aviões desenharam uma rota de formato obsceno, o que o professor interpreta como parte de uma “guerra psicológica”.
Trump, por sua vez, reforçou que a ofensiva no Caribe continuará. Em setembro, ele anunciou que os EUA vinham bombardeando embarcações associadas a “redes de narcoterrorismo”. A Human Rights Watch criticou as operações, classificando-as como “execuções extrajudiciais ilegais”, enquanto o Conselho de Segurança da ONU expressou preocupação com a morte de civis e o risco de uma escalada militar.
O governo venezuelano alega que as vítimas dos bombardeios eram pescadores, e não narcotraficantes. Ainda segundo o “New York Times”, Maduro chegou a oferecer petróleo e minerais ao governo americano para tentar evitar uma ofensiva, mas a proposta foi rejeitada, encerrando qualquer possibilidade de negociação diplomática.