A escalada de ataques verbais entre Donald Trump e os governos da Colômbia e da Venezuela ameaça um momento decisivo das negociações entre Brasil e Estados Unidos sobre as tarifas impostas a produtos brasileiros. O impasse ocorre em meio aos preparativos para um possível encontro entre Lula e o presidente norte-americano, que deve discutir a crise comercial e a estabilidade regional.
Após a reunião entre o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, na quinta-feira (16), foi decidido que uma rodada técnica de conversas virtuais entre negociadores dos dois países será marcada nos próximos dias. O objetivo é abrir caminho para um diálogo político de mais alto nível.
A tensão, no entanto, cresceu neste domingo (19), quando Trump chamou o presidente colombiano, Gustavo Petro, de “traficante de drogas ilegal” e acusou seu governo de promover a “produção massiva” de entorpecentes. O republicano afirmou que os EUA suspenderão “pagamentos e subsídios em larga escala” à Colômbia, advertindo Petro de que Washington “encerrará” as operações de drogas “por conta própria, e não de forma gentil”.
Pouco antes, Petro havia acusado o governo norte-americano de assassinato após um ataque militar em águas do Caribe. A ação ocorreu perto da costa venezuelana, onde Trump confirmou ter autorizado operações da CIA. O governo de Nicolás Maduro reagiu enviando caças, submarinos e navios de guerra, sem descartar uma invasão terrestre.
Trump alega que as ofensivas buscam combater cartéis de drogas na Venezuela e voltou a acusar Maduro de chefiar o chamado Cartel de los Soles, recentemente classificado pelos EUA como organização terrorista internacional.
Enquanto isso, o governo brasileiro tenta evitar que a crise diplomática contamine as tratativas comerciais. Lula, segundo assessores, pretende advertir Trump sobre os riscos de uma intervenção militar na Venezuela, destacando que uma ofensiva poderia agravar a instabilidade e fortalecer o narcotráfico na região.
Na semana passada, Trump havia admitido ter autorizado “operações secretas” da CIA em território venezuelano e dito que analisa “ataques terrestres” contra cartéis locais.
O Palácio do Planalto considera essencial que o encontro entre Lula e Trump ocorra ainda este ano. O presidente brasileiro embarca nesta terça-feira (21) para a Malásia, onde participará da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).
Diplomatas trabalham para que a reunião bilateral aconteça durante a viagem, embora ainda haja dúvidas sobre a compatibilidade das agendas. Segundo fontes do governo, o diálogo presencial entre os dois presidentes é visto como crucial para evitar interferências externas e restabelecer um canal político direto.
“Há muitas tentativas de pautar agendas paralelas e atrapalhar a relação bilateral. A presença dos chefes de Estado é fundamental para conter qualquer interferência”, afirmou uma fonte do Planalto.