A principal prova usada pela Polícia Federal (PF) para embasar o pedido de busca e apreensão contra a deputada federal Carla Zambelli, no começo deste mês, é um extrato do banco digital Cora, cuja cópia foi obtida pelo Metrópoles. Foi com base neste documento que os investigadores conseguiram dar o mínimo de credibilidade ao depoimento que o programador e “hacker” Walter Delgatti prestou, contando um plano golpista envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No extrato, entregue por Delgatti aos investigadores, há uma lista de quatro transações, via Pix, de pessoas próximas à deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), apontada como intermediadora do plano, que incluía uma invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Seria uma forma de descredibilizar as eleições e o sistema judicial brasileiro, expedindo um mandado de prisão contra o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Zambelli na Câmara dos Deputados Hugo Barreto/Metrópoles
Cópia de comprovantes de transferências de pessoas ligadas a Carla Zambelli ao hacker Walter Delgatti Reprodução
O hacker alega ter recebido pagamento próximo de R$ 40 mil da deputada federal Carla Zambelli Reprodução/Redes sociais
Hacker Walter Delgatti chega para depôr à PF Igo Estrela/Metrópoles
Hacker Walter Delgatti na CPI do 8/1 Vinícius Schmidt/Metrópoles
Hacker Walter Delgatti Igo Estrela/Metrópoles
Walter Delgatti Neto na CPMI dos atos golpistas Igo Estrela/Metrópoles
Carla Zambelli faz coletiva após operação da PF Hugo Barreto/Metrópoles
Zambelli na Câmara dos Deputados Hugo Barreto/Metrópoles
Cópia de comprovantes de transferências de pessoas ligadas a Carla Zambelli ao hacker Walter Delgatti Reprodução
Segundo a investigação, os dados mostram que o programador recebeu, ao menos, R$ 13,5 mil nos meses anteriores e posteriores à invasão do CNJ, “possivelmente como contraprestação pelos serviços prestados, por meio de interpostas pessoas próximas da deputada”. No depoimento, Delgatti disse que foi “pago para ficar à disposição” de Zambelli.
Segundo a PF, três pagamentos vieram de Renan Goulart, servidor comissionado da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que atua como assistente parlamentar no gabinete do deputado estadual Bruno Zambelli, irmão da congressista. Goulart já foi secretário parlamentar de Zambelli, cargo em que foi sucedido por Jean Hernani Vilela, o outro remetente de recursos, autor de um repasse de R$ 3 mil. Teria havido ainda, segundo Delgatti, pagamentos em dinheiro vivo.
Além do extrato bancário, as 37 páginas da representação feita pela PF trazem muitas reportagens de jornal e o próprio depoimento de Delgatti.
Foi com base nessas informações que, com aval da Procuradoria-Geral da República (PGR), o ministro Alexandre de Moraes expediu os mandados de busca e apreensão, além da quebra do sigilo bancário dos investigados.
Na sexta-feira (18/8), o programador prestou novo depoimento à PF. A convocação foi feita após, na quinta-feira, Delgatti ter prestado controverso depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos atos golpistas. Lá, ele disse, entre outras coisas, que teve interlocução com as Forças Armadas para questionar a seriedade das eleições, que Bolsonaro prometera um indulto em caso de problemas penais e que teria havido um “grampo” contra o ministro Alexandre de Moraes.