Imagens obtidas pelo Fantástico foram decisivas para a Justiça aceitar a denúncia contra quatro homens acusados pela morte de Rodrigo da Silva Boschen, de 22 anos, após suspeita de furto em um supermercado da rede Muffato, em Curitiba (PR). Tornaram-se réus os seguranças Antônio Cesar Bonfim Barros e Bryan Gustavo Teixeira, o funcionário do setor de hortifruti Luiz Roberto Costa Barbosa e o motociclista Henrique Moreira Alves Pinheiro do Carmo.
O caso ocorreu em fevereiro de 2024. Rodrigo, cliente frequente da unidade, tentou sair do local levando um chocolate no bolso. Ao ser abordado, entregou o produto, mas fugiu logo em seguida. Apesar da política do mercado proibir perseguições, os funcionários correram atrás dele, desobedecendo ordens da gerência, segundo o chefe da vigilância, Ailton Camargo.
As imagens mostram que Ailton também deixou o mercado na sequência da fuga, contrariando o próprio depoimento. Fora do estabelecimento, Rodrigo foi cercado pelos três acusados. Segundo o Ministério Público, as agressões começaram nesse momento e envolveram socos, chutes e um mata-leão.
Henrique, o motociclista, afirmou em depoimento que presenciou o momento em que Bryan aplicou o golpe fatal. A defesa de Bryan nega envolvimento em qualquer violência. Uma testemunha relatou que tentou intervir, pedindo que os agressores parassem, mas foi ignorada. “Gritei para soltarem ele, que chamassem a polícia. Ouvi que eu tinha dó de ladrão”, contou.
Rodrigo morreu no local. Seu corpo foi arrastado por três dos acusados e abandonado na rua, com as calças arriadas, exposto ao sol e aos animais. Nenhum dos envolvidos acionou socorro ou a polícia. Segundo a perícia, ele apresentava sinais de espancamento e asfixia.
Para o Ministério Público, os réus agiram com motivo fútil e extrema violência, praticando uma forma de “justiça com as próprias mãos”. A promotoria destaca ainda a superioridade numérica, o meio cruel e a omissão de socorro como agravantes. O promotor Marcelo Balzer defende que o supermercado Muffato indenize a família da vítima e responsabiliza a cultura de segurança da empresa pelo comportamento dos envolvidos.
O Muffato promovia a campanha “Os indesejáveis”, que exibia vídeos de furtos flagrados em suas lojas. Após a morte de Rodrigo, o conteúdo foi retirado do ar. Em nota, o grupo afirmou que os funcionários agiram por conta própria, fora dos protocolos estabelecidos.
A empresa Rota, responsável pela segurança, também declarou que não autoriza perseguições ou contenções físicas por parte dos seus vigilantes.
A perícia detectou vestígios de cocaína no organismo de Rodrigo. Ele estava em processo de recuperação e havia começado a trabalhar recentemente como auxiliar de produção, com salário de R$ 2.600.
“Ao invés de ser entregue à polícia, foi espancado até a morte. Virou réu, juiz e condenado por chocolate. Até agora não consigo acreditar”, desabafou o pai, Ronaldo Boschen.
O promotor Balzer alerta que o uso indevido de segurança privada tem provocado mortes violentas no país. “Empresas precisam rever seus protocolos. Segurança não pode ser sinônimo de brutalidade”, afirmou.
A defesa dos réus ainda será julgada em audiência. O funcionário Luiz Roberto, apontado como o autor da asfixia, declarou que a vítima já estava desmaiada quando chegou e que tentou socorro, mas não possui advogado constituído até o momento.