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Monday, 20 de October de 2025 - 04:56:10
Virada na Bolívia reacende equilíbrio ideológico na América do Sul
CENÁRIO POLÍTICO REGIONAL

A vitória de Rodrigo Paz nas eleições bolivianas, após quase duas décadas de hegemonia da esquerda, redesenhou o mapa político da América do Sul. A partir de novembro, a direita passará a governar cinco dos 12 países da região, enquanto a esquerda continuará à frente de sete.

A mudança ocorre em meio à crise econômica boliviana, com inflação elevada, escassez de combustíveis e queda nas reservas internacionais. O Movimento ao Socialismo (MAS), partido que levou Evo Morales e Luis Arce ao poder, sofreu um racha interno — o candidato apoiado por Arce obteve apenas 3% dos votos, ficando fora do segundo turno. A disputa foi vencida por Paz, que derrotou o também direitista Quiroga.

O continente, historicamente marcado por ciclos alternados de poder, vive um momento de equilíbrio ideológico. Enquanto o Uruguai voltou à esquerda com Yamandú Orsi, o Chile pode pender à direita em novembro, caso se confirme a vitória do conservador José Antonio Kast.

Segundo o cientista político Maurício Santoro, do Iuperj, “a América do Sul está dividida ideologicamente, com governos que enfrentam dificuldade de diálogo e cooperação”. Já a professora Regiane Nitsch Bressan, da Unifesp, lembra que a alternância entre esquerda e direita é natural nas democracias, mas se torna delicada quando há fragilidade institucional e descrença nas instituições.

A região, afirma ela, ainda carrega desigualdade, pobreza e instabilidade, fatores que alimentam o populismo. “O eleitor troca de lado em busca de soluções rápidas e, nesse movimento pendular, abre espaço para governos autoritários”, alerta.

O mapa político sul-americano reflete esse vai e vem. Em 2015, havia oito governos de esquerda e quatro de direita. Três anos depois, o cenário se inverteu. Desde 2022, o equilíbrio retornou, com sete líderes progressistas e cinco conservadores.

A crise boliviana simboliza o esgotamento de um ciclo. Para Santoro, Morales iniciou um governo sólido, mas, com o fim do “boom das commodities”, perdeu sustentação e tornou-se mais autoritário. “O próximo presidente herdará um país em recessão e provavelmente precisará de apoio internacional para ajustar as contas”, afirma.

Bressan acrescenta que a divisão interna e o desgaste da esquerda abriram espaço para a ascensão de novos líderes liberais. “A direita atual é mais polarizada e capitaliza o cansaço com promessas não cumpridas”, resume.

No tabuleiro continental, a América do Sul segue entre duas forças: uma esquerda pressionada pela crise econômica e uma direita que ganha fôlego em meio à insatisfação popular — um equilíbrio frágil que define a nova fase política da região.

Texto/Fonte: G1