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Thursday, 06 de November de 2025 - 15:52:41
2025 deve ser o segundo ou terceiro ano mais quente da história, alerta ONU às vésperas da COP30
CLIMA GLOBAL EM ALERTA

Às portas da COP30, que será sediada em Belém (PA), a Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou um relatório alarmante: 2025 deverá encerrar como o segundo ou terceiro ano mais quente desde o início dos registros, há 176 anos. O documento mostra que o planeta enfrenta níveis recordes de gases de efeito estufa, calor sem precedentes nos oceanos e retração acelerada de geleiras e calotas polares.

Segundo a OMM, entre janeiro e agosto de 2025, a temperatura média global ficou 1,42 °C acima da era pré-industrial — um pouco abaixo do recorde de 2024, que foi de 1,55 °C. Mesmo assim, o período entre 2015 e 2025 concentra os 11 anos mais quentes já registrados. “Será praticamente impossível limitar o aquecimento global a 1,5 °C sem ultrapassar temporariamente essa meta”, afirmou a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo.

A tendência preocupa autoridades mundiais. Em discurso durante a Cúpula dos Líderes, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que cada ano acima do limiar de 1,5 °C agrava desigualdades e causa danos irreversíveis. “Devemos agir agora, em larga escala, para que esse aumento seja o mais curto e seguro possível”, disse.

O relatório também destaca que o El Niño observado entre 2023 e 2024 deu lugar a uma fase neutra ou de La Niña em 2025. Ainda assim, o planeta registrou 26 meses consecutivos de recordes mensais de calor, com exceção de fevereiro deste ano. O fenômeno está ligado ao fim de uma longa fase de resfriamento global e à redução de aerossóis, fatores que intensificaram as temperaturas.

As medições apontam que as concentrações dos principais gases de efeito estufa — dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄) e óxido nitroso (N₂O) — voltaram a bater recordes. O CO₂ alcançou 423,9 partes por milhão em 2024, com aumento inédito de 3,5 ppm em apenas um ano. Desde 1750, o dióxido de carbono subiu 53%, o metano 166% e o óxido nitroso 25%.

Os oceanos também armazenam calor em níveis nunca vistos, superando 2023 em 16 zetajoules — o equivalente a bilhões de trilhões de joules. “Mais de 90% do excesso de energia fica retido nos oceanos”, diz o documento, destacando que isso intensifica tempestades tropicais, acelera o derretimento do gelo polar e eleva o nível do mar. Desde 1993, a taxa média de aumento do nível dos oceanos dobrou, atingindo 4,1 milímetros por ano.

A retração das geleiras avança de forma dramática. O gelo do Ártico registrou, em março de 2025, a menor extensão máxima já observada, e o da Antártida manteve o terceiro menor volume histórico. No ciclo hidrológico de 2023/2024, a perda média foi de 1,3 metro de gelo — cerca de 450 gigatoneladas. A Venezuela perdeu seu último glaciar, tornando-se, junto com a Eslovênia, um dos dois países sem geleiras no mundo moderno.

Os impactos já são sentidos em todo o planeta. Ciclones e inundações devastaram países da África, enquanto a Ásia enfrentou enchentes que deslocaram mais de 1,5 milhão de pessoas. No Brasil, a seca prolongada atingiu novamente a Amazônia e o Centro-Sul, favorecendo queimadas e pressionando reservatórios. Na Ásia Oriental, China, Japão e Coreia enfrentaram o verão mais quente da história, com temperaturas próximas dos 45 °C.

O calor extremo também afetou a infraestrutura energética mundial, elevando em 4% a demanda global por eletricidade — e até 30% em algumas regiões africanas. Para a OMM, a integração de dados climáticos na geração de energia renovável é essencial para evitar colapsos.

O relatório ainda ressalta que, embora o número de países com sistemas de alerta precoce tenha dobrado desde 2015 — passando de 56 para 119 —, cerca de 40% do planeta ainda não dispõe de mecanismos adequados para reagir a desastres naturais com antecedência.

Divulgado poucos dias antes da COP30, o documento reforça o senso de urgência. “Os indicadores climáticos continuam soando alarmes, e o mundo não está no caminho para cumprir o Acordo de Paris”, conclui o relatório.

Texto/Fonte: G1