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Tuesday, 22 de July de 2025 - 16:47:51
A história do café no Brasil: de impurezas à valorização da qualidade e o impacto das campanhas com Tarcísio Meira
EVOLUÇÃO DO CAFÉ BRASILEIRO E O PAPEL DE TARCÍSIO MEIRA NA MUDANÇA DA IMAGEM

A ideia de que o café de melhor qualidade produzido no Brasil é todo exportado, enquanto o ruim fica para consumo interno, pertence ao passado e não reflete mais a realidade atual. Essa percepção, comum até a década de 1980, começou a mudar com o avanço da fiscalização e a valorização do mercado interno.

Naquela época, o Instituto Brasileiro do Café (IBC) era o órgão responsável por gerir o setor, controlando principalmente preço e volume, mas pouco a qualidade do produto. Segundo o pesquisador Sérgio Parreiras, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), as fraudes eram frequentes, incluindo a mistura dos grãos com cevada, milho e outras impurezas, além da fiscalização ineficiente. Em 1989, estima-se que 30% do café comercializado no país continha adulterações. Isso colaborou para o desinteresse dos consumidores brasileiros: o consumo per capita caiu de 4,8 kg em 1965 para 2,27 kg em 1989.

O tabelamento de preços fixado pelo governo também contribuiu para essa situação, já que os torrefadores não tinham incentivo para buscar qualidade, visto que o preço final do café era o mesmo independentemente da qualidade do grão. Além disso, o governo formava estoques de café que, com o tempo, perdiam qualidade e eram vendidos no mercado interno, prejudicando ainda mais a imagem do produto nacional.

A virada começou em 1989, quando o controle do mercado foi transferido para a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). A entidade passou a exigir que as empresas produzissem apenas pacotes com 100% de grãos de café e criou o Selo de Pureza para certificar a qualidade, apoiando-se em auditorias e testes rigorosos. Essa mudança foi essencial para restaurar a confiança do consumidor brasileiro.

Nesse cenário, o ator Tarcísio Meira teve papel fundamental ao protagonizar campanhas publicitárias da Abic que destacavam a pureza do café brasileiro. As propagandas foram veiculadas durante anos, inclusive em novelas como “Tieta” em 1990, ajudando a construir uma imagem positiva do produto nacional. O slogan “Por trás desse selo, só tem café” marcou esse período de transição.

A fiscalização foi aprimorada ao longo dos anos e, atualmente, para obter a certificação da Abic, as indústrias passam por quatro etapas rigorosas: análise microscópica para detectar impurezas, avaliação sensorial às cegas, auditoria das práticas de fabricação e monitoramento contínuo nas prateleiras dos supermercados para garantir a conformidade do produto.

Outra mudança importante ocorreu em 2023, com o governo federal voltando a participar da regulamentação do mercado por meio da portaria 570, que estabeleceu regras detalhadas para a composição do café torrado, mantendo o limite máximo de 1% de impurezas e fortalecendo o controle da qualidade no país.

O crescimento do café especial também é um destaque. Desde os anos 1990, com o fim do controle estatal de preços e maior fiscalização, os produtores brasileiros passaram a investir em grãos de melhor qualidade, voltados tanto para o mercado interno quanto para a exportação. Embora ainda seja mais exportado, o consumo interno de café especial passou de 1% em 2015 para cerca de 15% atualmente. Mercados com renda mais alta, como Europa, Estados Unidos e Japão, são os principais consumidores desse tipo de café.

Hoje, o trabalho contínuo de fiscalização e valorização da qualidade, impulsionado pela Abic e apoiado pelo Ministério da Agricultura, permitiu que o café brasileiro recuperasse sua reputação, incentivando investimentos em grãos premiados e consolidando o Brasil como referência mundial no setor cafeeiro.

Texto/Fonte: G1