Foto: Reprodução/TV Globo
Monday, 28 de July de 2025 - 10:18:10
Acordo entre EUA e União Europeia enfraquece posição brasileira diante do tarifaço de Trump
BRASIL ISOLADO NAS NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS

A aproximação entre os Estados Unidos e a União Europeia em torno do novo pacote tarifário anunciado por Donald Trump deixou o Brasil ainda mais isolado nas tentativas de reverter o chamado tarifaço, que impõe 50% de sobretaxa a diversos produtos estrangeiros a partir de 1º de agosto. O governo brasileiro, agora sem um parceiro de peso nas negociações, busca alternativas diplomáticas para conter os efeitos da medida, cuja motivação é vista como majoritariamente política.

Durante agendas em Nova York, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, manifestou interesse em uma reunião com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio. Ele chegou a sinalizar a possibilidade de uma viagem a Washington em uma última tentativa de reverter o tarifaço antes que ele entre em vigor.

Enquanto isso, o governo Lula segue aguardando um posicionamento técnico do governo americano que justifique legalmente a imposição das novas tarifas. Trump já afirmou que não haverá adiamento na implementação das medidas. A argumentação oficial da Casa Branca poderia se basear em uma investigação da Secretaria de Comércio dos EUA (USTR), que analisa supostas práticas comerciais desleais do Brasil. No entanto, especialistas apontam que o país possui déficit na balança comercial com os Estados Unidos, o que fragiliza essa linha de defesa.

No centro das críticas está a percepção de que as medidas americanas têm fundo político. Avalia-se que a punição ao Brasil está ligada ao alinhamento do governo Lula com pautas contrárias ao ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump. Além disso, há indícios de que o tarifaço tem como pano de fundo a intenção de proteger empresas de tecnologia americanas que operam no Brasil — especialmente diante das discussões sobre regulação de plataformas digitais.

O vice-presidente Geraldo Alckmin chegou a manter contato com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, como parte das tentativas diplomáticas. No entanto, o próprio presidente Lula tem sido cobrado por não ter se envolvido diretamente nas tratativas. Segundo interlocutores, ele não telefonou para Trump, o que poderia ter sido interpretado como uma sinalização de distensão no momento crítico da relação bilateral.

O presidente agora enfrenta críticas da oposição, que o acusa de não ter feito esforços pessoais suficientes para reabrir o diálogo com a Casa Branca. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) chegou a desafiar publicamente Lula, pedindo que ele deixasse de lado a ideologia e ligasse para Trump, numa última tentativa de salvar as negociações comerciais.

Dentro do governo, fontes relatam que Alckmin tem tentado diariamente estabelecer novos contatos com autoridades americanas, mas encontra dificuldades para obter respostas. “Ele liga todos os dias, mas ninguém quer conversar com ele”, teria relatado Lula em uma declaração recente, revelando o grau de isolamento enfrentado pelo Brasil neste impasse.

A expectativa agora gira em torno das próximas movimentações diplomáticas, em especial se Mauro Vieira conseguirá audiência com representantes do governo norte-americano em tempo hábil. Até lá, o risco de o tarifaço entrar em vigor sem qualquer concessão permanece real.

Texto/Fonte: G1