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Domingo, 25 de fevereiro de 2024 - 13:39:00
Apoiadores de Bolsonaro fazem ato na Avenida Paulista
ATO PRÓ DEMOCRACIA
Investigado por tentativa de golpe de Estado, ex-presidente convocou mobilização pelas redes sociais e disse que objetivo é defender "o Estado democrático de direito e a liberdade".

Apoiadores de Jair Bolsonaro fazem um ato neste domingo (25) na Avenida Paulista em defesa do ex-presidente, investigado pela Polícia Federal por uma tentativa de golpe de Estado para mantê-lo no poder e evitar a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Bolsonaro, que foi convocado para prestar depoimento à PF na última quinta-feira (22) e ficou em silêncio, é esperado para discursar em um carro de som estacionado perto do Museu de Arte de São Paulo (Masp).

Por volta de 14h30, o ato ocupava três quarteirões e meio. A Polícia Militar mobilizou 2.000 homens para fazer a segurança na Paulista.

O ex-presidente anunciou a mobilização em suas redes sociais e disse que seria um "ato pacífico, pelo nosso Estado democrático de direito, pela nossa liberdade, família e futuro".

Além de Bolsonaro, devem participar a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia e parlamentares aliados. São esperadas as presenças de alguns governadores, entre eles Tarcísio de Freitas, governador de SP.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, alvo de operação da PF na investigação sobre a tentativa de golpe e preso em flagrante no dia 8 por estar com uma arma irregular e com uma pepita de ouro, discursou no carro de som e disse que, graças aos eleitores de Bolsonaro, o PL se tornou o "maior partido do Brasil".

Devido às investigações, Bolsonaro e Valdemar não podem manter contato, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).

Carro de som para discurso de Bolsonaro na Avenida Paulista foi posicionado na Rua Peixoto Gomide, perto do Masp — Foto: Carla Carniel/Reuters

Carro de som para discurso de Bolsonaro na Avenida Paulista foi posicionado na Rua Peixoto Gomide, perto do Masp — Foto: Carla Carniel/Reuters

Os apoiadores do ex-presidente chegaram ao local nas primeiras horas da manhã, com bandeiras do Brasil e camisetas amarelas. Alguns portavam bandeiras de Israel. Na última semana, o governo de Benjamin Netanyahu foi criticado por Lula, que chamou de genocídio a morte de palestinos em Gaza e comparou as ações do Exército israelense ao extermínio de judeus por nazistas no Holocausto. Em resposta, Israel declarou Lula “persona non grata”, o que significa que sua presença não é bem-vinda.

Alguns apoiadores levaram cartazes contrários ao comunismo e com lemas em defesa da pátria e da família.

Bandeiras de Israel foram vistas durante o ato em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro neste domingo (25), na Paulista — Foto: g1

Bandeiras de Israel foram vistas durante o ato em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro neste domingo (25), na Paulista — Foto: g1

Apoiadores de Bolsonaro se reúnem na Avenida Paulista neste domingo (25) — Foto: g1

Apoiadores de Bolsonaro se reúnem na Avenida Paulista neste domingo (25) — Foto: g1

 

Investigação da PF

 

Bolsonaro foi um dos alvos da operação Tempus Veritatis, deflagrada pela PF há duas semanas. De acordo com as investigações, o ex-presidente, alguns de seus ex-ministros e militares se organizaram para tentar um golpe de Estado e impedir a chegada de Lula ao poder.

Esse plano incluía, de acordo com as investigações:

  • desacreditar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas com a disseminação de conteúdos falsos;
  • fomentar, planejar e executar atos antidemocráticos, com acampamentos em frente a quartéis do Exército;
  • monitorar opositores e autoridades, entre elas o ministro Alexandre de Moraes, do STF;
  • elaborar documentos que pudessem fundamentar juridicamente iniciativas golpistas;
  • incitar militares a aderirem ao golpe e pressionar aqueles que fossem contrários.

 

Os advogados de Bolsonaro afirmam que ele nunca pensou em golpe e que prestará depoimento às autoridades quando tiver acesso à investigação. O ex-presidente teve que entregar seu passaporte às autoridades e está proibido de manter contato com os outros investigados, entre eles o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e os ex-ministros Braga Netto e Augusto Heleno, que são generais do Exército.

Apoiadores de Bolsonaro e vendedores ambulantes na altura do prédio da Fiesp, na Avenida Paulista — Foto: g1

Apoiadores de Bolsonaro e vendedores ambulantes na altura do prédio da Fiesp, na Avenida Paulista — Foto: g1

 

A reunião

 

As investigações da PF revelaram que Bolsonaro, ainda no cargo, recebeu e pediu ajustes na minuta do golpe, um documento elaborado com o objetivo de anular o resultado da eleição vencida por Lula e que também previa a prisão de Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma cópia da minuta foi apreendida na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

A PF descobriu também um vídeo de uma reunião ministerial realizada em 5 de julho de 2022, três meses da eleição, na qual Bolsonaro e seus então ministros discutiram ações para evitar a vitória de Lula. Essa gravação foi encontrada no computador de Mauro Cid, ex-ajudante de Bolsonaro que está colaborando com as investigações.

Na reunião, Bolsonaro disse aos ministros que eles não poderiam esperar o resultado da eleição para agir. Segundo a PF, o então presidente exigiu que seus ministros — "em total desvio de finalidade das funções do cargo" — deveriam promover e replicar todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da estrutura do Estado brasileiro para "fins ilícitos e dissociados do interesse público".

Ainda de acordo com a PF, na reunião o então ministro chefe do GSI, general Augusto Heleno, afirmou que conversou com o diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais.

Veja abaixo o que mais as investigações da PF revelaram:

 

  • Bolsonaro discutiu o teor da minuta do golpe e pediu ajustes. A versão inicial previa a prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, mas Bolsonaro pediu que os nomes de Pacheco e Gilmar fossem retirados do documento. Ele também quis que fosse mantido o trecho que previa a realização de novas eleições.
  • Após as mudanças, Bolsonaro convocou generais e comandantes das Forças Armadas para apresentar a minuta e pressioná-los a aderir ao golpe.
  • O governo Bolsonaro mantinha uma estrutura de inteligência paralela que monitorava a agenda de autoridades e era comandada pelo ex-assessor especial de Bolsonaro Marcelo Câmara.
  • Uma das agendas acompanhadas em tempo integral era a de Alexandre de Moraes para, caso fosse dado o golpe militar, ele pudesse ser preso. Segundo as investigações, Marcelo Câmara já tinha o "itinerário exato de deslocamento do ministro" nas semanas finais de dezembro de 2022.
  • Ex-presidente Jair Bolsonaro em outubro de 2023 — Foto: Reuters/Ueslei Marcelino
  • Militares da ativa pressionaram colegas contrários ao golpe para tentar fazê-los aderir ao movimento. Em uma das conversas captadas pela PF, o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa, chegou a chamar o comandante do Exército, general Freire Gomes, de "cagão".
  • Bolsonaro convocou uma reunião em julho de 2022 com a alta cúpula do governo, incluindo o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, para discutir estratégias que assegurassem a sua vitória nas eleições. Na ocasião, o general Augusto Heleno, que chefiava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), defendeu que, se tivesse que "virar a mesa", que fosse "antes das eleições". A PF encontrou um vídeo da reunião em um computador apreendido na casa de Mauro Cid.
  • Em dezembro de 2022, o então chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, general Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, se reuniu com Bolsonaro no Palácio da Alvorada e disse que colocaria as tropas especiais nas ruas se ele assinasse a minuta do golpe.
  • O grupo agia em seis núcleos para organizar uma tentativa de golpe de Estado. Entenda aqui como, segundo a PF, eles estavam articulados.
  • A organização tinha cinco eixos de atuação: 1 - ataques virtuais a opositores; 2 - ataques às instituições (STF e TSE) e ao sistema eleitoral; 3 - tentativa de golpe de estado; 4 - ataques às vacinas contra a Covid-19; e 5 - uso da estrutura do estado para obter vantagens, como desvios de bens, a exemplo do caso das joias.
  • Pessoas muito próximas a Bolsonaro, como Mauro Cid, ajudaram a articular e financiar os atos golpistas que levaram à invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro. Ele deu orientações e chegou a receber de um major do Exército pedido de R$ 100 mil para ajudar na organização dos atos em Brasília.
  • Em outra frente, o PL, partido de Bolsonaro, foi usado para financiar narrativas que atacavam as urnas eletrônicas. O ápice dessa estratégia foi a apresentação de um estudo questionando o resultado da eleição.
  • Na sede da legenda, os policiais encontraram um documento com argumentos para decretação do estado de sítio. O advogado Fábio Wajngarten, que representa Bolsonaro, disse que o "padrão do conteúdo não condiz com as tradicionais e reconhecidas falas e frases do presidente". Afirmou ainda que "não tem limite a vontade de tentar trazer o Presidente Jair Bolsonaro para um cenário político que ele jamais concordou".
Texto/Fonte: Por g1 — São Paulo