A exibição de uma bandeira com o nome de Donald Trump durante um protesto na Câmara dos Deputados gerou desconforto interno no Partido Liberal (PL), em meio à crise provocada pelas tarifas de 50% anunciadas pelo ex-presidente norte-americano contra o Brasil. A ação de deputados bolsonaristas, vista por lideranças da sigla como inoportuna e desastrosa, acirrou tensões num momento em que o partido tenta blindar a imagem da direita para as eleições de 2026.
Setores mais pragmáticos da legenda criticaram, em conversas reservadas, a atuação dos parlamentares envolvidos no ato, alegando que o gesto desviou o foco da crítica principal — a decisão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de suspender reuniões de comissões presididas por deputados do PL. Motta havia reagido a convocações feitas por essas comissões com pautas de apoio político a Jair Bolsonaro.
Deputados como Sargento Fahur (PSD-PR) e Delegado Caveira (PL-PA) foram aconselhados a não repetir manifestações simbólicas em nome da bancada. Segundo interlocutores, o recado foi claro: se quiserem defender Trump, que o façam individualmente. Coletivamente, o gesto é visto como um tiro no pé, sobretudo num cenário em que o PL busca uma resposta política ao tarifaço sem ampliar desgastes públicos.
O líder da legenda na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), minimizou a crise. “O assunto já foi dialogado com a bancada e com o deputado que levou a bandeira, para que ações individuais não sejam mais expressas em ações coletivas. Para a bancada, o assunto foi superado”, afirmou.
Contudo, o desconforto vai além do episódio da bandeira. O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem sido motivo de preocupação para o alto comando do partido. Considerado “incontrolável” por dirigentes, Eduardo é acusado de agir de forma isolada, sem coordenar estratégias ou buscar consensos, em especial desde que passou a fazer movimentações políticas nos Estados Unidos.
Fontes do partido relatam que o parlamentar não contribui com soluções concretas diante do impacto do tarifaço na base bolsonarista. Ao ser confrontado por colegas, Eduardo repete que nunca solicitou as tarifas e que sua atuação no exterior visava aplicar a chamada Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
A Lei Magnitsky permite aos EUA impor sanções a indivíduos estrangeiros acusados de corrupção ou violações graves de direitos humanos. Eduardo tentou enquadrar Moraes com base nessa legislação, argumentando que se tratava de um gesto contra abusos judiciais — não contra o Brasil.
Lideranças da legenda, no entanto, afirmam que o deputado ainda não se posicionou de forma clara e pública contra o tarifaço, o que consideram essencial para resgatar a narrativa do partido. Além disso, houve cobranças para que ele cessasse ataques ao governador Tarcísio de Freitas (PL-SP), um dos nomes mais fortes da direita para 2026. Segundo relatos, os ataques só cessaram após intervenção direta do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Mesmo assim, Eduardo Bolsonaro indica que pretende intensificar o confronto com o STF e manter sua linha de atuação, o que alimenta o clima de apreensão entre aliados, já preocupados com o impacto das disputas internas e do desgaste internacional sobre os planos eleitorais da direita no Brasil.