Foto: Gabrielle Ribeiro
Thursday, 30 de October de 2025 - 13:56:06
Brasileiros reduzem consumo de álcool, mas setor cresce com bebidas premium e sem teor alcoólico
COMPORTAMENTO E MERCADO

Cada vez mais brasileiros, especialmente os jovens da geração Z, estão trocando o álcool por alternativas voltadas à saúde e ao bem-estar. Essa mudança de comportamento, no entanto, não freou o lucro das empresas do setor — pelo contrário, impulsionou um novo ciclo de crescimento baseado em inovação, qualidade e moderação.

A influenciadora Gabrielle Ribeiro, por exemplo, deixou as festas e as ressacas para se dedicar a uma rotina saudável, economizando até R$ 300 por semana. Ela é parte de um grupo que, segundo pesquisa da MindMiners com 3 mil pessoas, representa apenas 45% dos jovens de 16 a 30 anos que ainda consomem álcool — bem menos que os 57% dos millennials e 67% da geração X. Entre os motivos estão o bem-estar, o controle financeiro e o desejo de equilíbrio emocional.

Outros, como Rayane Moreira, nunca se identificaram com o álcool. Ela prefere mocktails — drinks sem teor alcoólico — e vinhos, mantendo o hábito de evitar bebidas por convicção pessoal. Casos como o dela e de Gabrielle refletem um fenômeno crescente: a busca por experiências mais conscientes, que impacta diretamente o mercado.

De acordo com a Euromonitor, o consumo de cervejas sem álcool no Brasil cresceu mais de 200% entre 2020 e 2023, alcançando 649,9 milhões de litros. O país já é o segundo maior mercado mundial desse tipo de produto, e a expectativa é que ultrapasse 1 bilhão de litros em 2025.

A tendência também movimenta bares e restaurantes. No Caledonia Bar, em São Paulo, a procura por mocktails aumentou tanto que o estoque chega a acabar em poucos dias. “Hoje o público entende que bebida sem álcool não precisa ser sem graça. É uma experiência sensorial como qualquer outra”, explica o proprietário, Maurício Porto.

Na indústria, o movimento é visto como uma oportunidade de ouro. A Ambev aposta em marcas como Bud Zero, Corona Cero e Stella Pure Gold, e projeta que o segmento cresça cinco vezes mais rápido que o de cervejas tradicionais até 2028. Já a Diageo, dona de marcas como Tanqueray e Guinness, investe em versões 0.0 e expandiu seu portfólio com a Ritual Zero Proof, consolidando-se como líder global em destilados sem álcool.

A moderação também impulsionou o consumo premium. Entre 2022 e 2025, as vendas de uísques single malt cresceram 10%, refletindo a busca por qualidade e sofisticação. Pesquisas mostram que 43% dos consumidores pretendem reduzir o consumo de álcool nos próximos meses, mas sem abrir mão da experiência.

Outro comportamento em alta é o chamado “zebra stripe”, em que o consumidor alterna entre bebidas com e sem álcool durante a mesma ocasião — uma forma de prolongar a diversão sem perder o controle. “Não é sobre beber mais, é sobre beber melhor”, resume Guilherme Martins, vice-presidente de inovação e marketing da Diageo.

Enquanto o hábito de beber perde status de símbolo social entre os mais jovens, a indústria se reinventa. O resultado é um mercado mais diverso, com foco em equilíbrio, bem-estar e prazer — onde a taça, seja ela alcoólica ou não, continua sendo um brinde à experiência.

Texto/Fonte: G1